Alexandre Pais

Que fará Rui Costa com a sua vitória?

Q

Desta vez sim, a presença da família mais do que se justificava: foi estrondosa a vitória de Rui Costa nas eleições do Benfica. Nada que não se estivesse à espera, mas depois de termos visto o que aconteceu em Lisboa com Fernando Medina, colocar pelo menos a hipótese que o vencedor antecipado pudesse não o ser tornou-se quase obrigação.

Claro que no lugar de Carlos Moedas compareceu, no duelo da Luz, um candidato débil e com pouca noção da sua falta de capacidade para um combate desigual. Francisco Benitez teve, no entanto, o mérito de questionar, de pôr o dedo na ferida e, acima de tudo, de aceitar uma luta a que outros fugiram por mal dissimulado receio do esmagamento e da humilhação.

Gostaria de acreditar que se iniciaram no Benfica os ‘novos tempos’ que o eleito presidente da autarquia prometeu para a capital. Por um lado, porque os problemas que Rui Costa herda são, afinal, os que já eram seus. E também a filosofia, os métodos, muitas pessoas e principalmente a estrutura montada pelo antigo líder não são, nem podiam ser, para deitar fora. Fácil será fazer diferente, difícil, ainda que não impossível, será fazer melhor.

Por outro lado, a sólida situação financeira que Vieira diz ter deixado não é a mesma que era antes da pandemia e a ‘auditoria interna’ é uma diversão para totós. Faltam ao Benfica, como a muitos outros emblemas do seu nível europeu, dezenas de milhões de euros em receitas, sem que se tenham visto, no caso dos ‘encarnados’, reduções de despesas compatíveis com o desequilíbrio gerado pelos estádios vazios. Pelo contrário, a contratação de jogadores ‘feitos’ e caros não parou e da academia não saíram mais Guedes ou Cancelos, Bernardos ou Rúbens Dias que pudessem vir, a breve trecho, ajudar a repor o equilíbrio das contas.

Essa política, sem magnatas estrangeiros a investir fortemente na SAD – o que dificilmente acontecerá até pela natureza ‘nacionalista’ do próprio clube – tem os dias contados, haja o que houver, sendo o seu abandono mais rápido se o Benfica não for campeão.

Não foi por acaso que Rui Costa já falou num plantel mais curto e ‘encheu’ a sua direção de gente que saberá tão pouco de futebol como as supostas ‘cartas’ que Benitez traria na manga – e que obviamente não eram nenhumas – mas que perceberá bem mais daquilo que interessa às empresas: estratégia, gestão, contratos e contas certas.

A consequência maior desse amanhã irá seguramente sofrê-la Jorge Jesus, que continuará a exigir reforços de muitos milhões e a ter dificuldade em potenciar os jovens da academia – como temos visto, ‘engolir’ Gonçalo Ramos não lhe tem sido fácil… E se o Benfica não quiser continuar a correr para o precipício, o treinador sairá, pelo que encontrar a pessoa certa para o ‘dia seguinte’ do futebol irá ser outra preocupação para Rui Costa – mais uma. Mas este é o seu tempo e, mais do que certo, o desafio da sua vida.

Outra vez segunda-feira, Record, 11out21

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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