Por algum motivo, os duros confrontos mediáticos de Mário Soares com Freitas do Amaral, na campanha para as presidenciais de 1986, e com Basílio Horta, para as de 1991, deram lugar à amizade, e da direita à esquerda se ouvem, na hora do desaparecimento do antigo Presidente, elogios rasgados ou comedidos, sinceros ou forçados. Goste-se ou não, Soares foi uma figura ímpar, um homem que tinha o dom de se adiantar ao tempo, “um grande amante da literatura e do que é novo”, como o definiu o Presidente Jorge Sampaio.
Fui-lhe apresentado três vezes: por João Tito de Morais, numa viagem a Cabo Verde e ao Brasil, em 1976, por Igrejas Caeiro, na Assembleia da República, em 1977, e por Tomás Taveira, no Cinema Tivoli, em 1988. Soares não me conhecia, mas eu sabia o que lhe devia. Ele era o homem que fizera encher a Alameda D. Afonso Henriques, em 1975, para defender a mesma liberdade que permite hoje que tantos anões o ataquem nas redes sociais com toda a série de indignidades. Não é um preço alto, reconheça-se – vindo de quem vem, ele gostaria.
Parece que foi ontem, Sábado, 10 JAN17
“Sobre a bandeira, tanto se lê que Soares cuspiu sobre o símbolo nacional, como que o pisou ou mesmo que o queimou. O incidente teria ocorrido durante uma manifestação em Londres, em Julho de 1973, organizada para contestar a visita de Marcelo Caetano ao Reino Unido. Na manifestação, cujos registos são públicos, participaram socialistas e comunistas portugueses e uma miríade de movimentos britânicos de oposição à colonização lusa em África e também ao apartheid. Mas não há registos da suposta profanação do símbolo nacional e muito menos do envolvimento de Soares no acto.”