Alexandre Pais

Palhaçada é o termo, já dizia o Villas-Boas

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O próprio ‘punido’ é o primeiro a gozar com os palermas: “Foram céleres na decisão, ainda não acabou o ano civil…” Sérgio Conceição reagiu desse modo aos 15 dias de suspensão com que o Conselho de Disciplina da FPF pretende castigá-lo. E antes que o leitor pense que o tentado afastamento do banco do treinador do FC Porto tem algo a ver com a forma intempestiva como por vezes se comporta, vale a pena recordar que o ‘crime’ apontado a Sérgio foi ter proferido uma frase tenebrosa: “Não vale tudo para ganhar”.

Claro que perante uma expressão tão horrível e tão insultuosa, o CD teve de abrir vários inquéritos, ouvir dezenas de testemunhas, ver centenas de versões do vídeo da ação delituosa e suportar-se em doutos pareceres para concluir que com menos de duas semanas a punição não seria exemplar. Tudo isso – e graças ao caráter de urgência atribuído à investigação – demorou apenas dez meses, pelo que a conclusão pôde dar-se a tempo de impedir o técnico de se sentar no banco nos jogos contra o Sp. Braga e o Benfica.

‘A tempo de impedir’ se os castigos no futebol português não fossem uma fantochada. Aliás, basta atentar no comportamento contido e amedrontado de Sérgio Conceição de fevereiro para cá. Sabendo estar a ser alvo de um processo gravíssimo, o treinador portista travou a fundo – como ainda ontem se viu… – e desde a ‘ofensa’ do Jamor parece mais um anjo do que o temível dragão que antes largava fogo e o mais que viesse.

Apresentado o recurso que suspendeu a mão pesada do CD e havendo ainda o emérito Tribunal Arbitral do Desporto como instância benigna seguinte, já se percebeu que vai acontecer ao estúpido castigo de Sérgio o mesmo que sucedeu aos jogos de interdição com que foram ‘contemplados’ os estádios de alguns clubes portugueses e que sempre morrem no TAD – que me lembre assim de repente, nem um foi cumprido!

Quando se fala desta palhaçada – direitos de autor eternos para o termo serão devidos a André Villas-Boas – certas almas logo apontam o dedo ao pobre secretário de Estado do Desporto, como se ‘sua inexistência’ tivesse poderes para meter ordem numa casa em autogestão, em que os donos da bola são os primeiros a não querer ser punidos e a manter, por isso, o ‘status quo’ que, permitindo a bagunça, lhes traz prosperidade. Por mim, vivo bem com isso, gosto de ver as pessoas felizes.

Último parágrafo para o canal Eurosport, que nesta altura do ano torna a não conseguir cumprir a programação anunciada e deixa os telespectadores às aranhas. Com muitas competições na neve, a estação submete-se aos interesses comerciais do eixo franco-alemão e dos países nórdicos, ficando o público entregue a horas sucessivas de modalidades de inverno, com o esqui alpino e os intermináveis saltos a colocarem-nos os nervos à prova. No sábado, por exemplo, perdemos o ‘direto’ de um jogo, das meias-finais do Open da Escócia de snooker, entre duas lendas: Ronnie O’Sullivan e John Higgins. Era como fosse possível voltar a ver um confronto entre Federer e Nadal, e a essa hora o Eurosport transmitisse um open de golfe…

Outra vez segunda-feira, Record, 13dez21

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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