No Tour do ano passado, aconteceu com Lance Armstrong o que jamais se vira: quedas atrás de quedas. O norte-americano, então com 38 anos, percebeu que a alta competição não é muito aconselhável para velhos. Mais “frescos”, os seus compatriotas e ex-colegas de equipa, Chris Horner, de 39 anos, e Levi Leipheimer, de 37 (aliás, quase 40 e quase 38…), insistiram agora no erro e deu no que deu: um caiu e foi para casa, o outro caiu na estrada e na geral: de favorito já vai em 42.º.
Ontem, o vitaminado Alexander Vinokourov, também de 37 anos (quase 38…), como ainda não tinha dado qualquer queda e está apenas a 32 segundos de Hushovd, resolveu apostar na conquista da camisola amarela e lançou-se, a 20 quilómetros da chegada, na perseguição do grupo de fugitivos, até ter apenas Rui Alberto Faria da Costa – por que raio o identifica com o nome completo a própria organização da prova? – na sua frente. Chegou a estar a 15 segundos do português e a ser líder virtual, até que a veterania o traiu e o comboio do pelotão, embalado, o trucidou mesmo sobre a meta.
Mas não trucidou o nosso Rui, de 24 anos, que recordou por certo Joaquim Agostinho e o facto de não haver campeões sem sofrimento, cerrou os dentes e resistiu, após 180 quilómetros (!) em fuga, para ganhar a 8.ª etapa e entrar na história da Volta a França.
Como, a exemplo dos médicos ou dos polícias, os jornalistas estão sempre de serviço, interrompi por uma hora as minhas férias para ver os últimos 30 quilómetros da epopeia de Super-Besse Sancy e prestar depois esta reverência a mais um grande feito do desporto português. Foi um privilégio tê-lo visto correr e triunfar com tamanha classe, sr. Faria da Costa.
Sprint curto, a publicar na edição impressa de Record de 10 julho 2011
Nota da QdoC – Não foi preciso esperar mais de um dia para se ver cumprida a profecia: decorridos 96 quilómetros da 9.ª etapa, a de hoje, “Vino” também caiu e foi para casa! E se Horner partiu o nariz, o russo fraturou logo o fémur… Não, não sou bruxo, já cá ando é há muitos anos e tenho o corpo cheio de cicatrizes.