Alexandre Pais

O risco de Marta Temido

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Sou dos que se dão por felizes por Marta Temido ser ministra da Saúde quando a covid-19 nos bateu à porta. Não aprecio a sua pouca vocação para o diálogo, mas reconheço que enfrentou a pandemia com coragem, competência e determinação sem quebras.

O que me parece hoje é que a falta de paciência para ouvir nos irá meter em trabalhos evitáveis. Nos vários canais, dezenas de especialistas passaram a semana a pedir, quase por unanimidade, que regresse a informação diária sobre os estragos do vírus, que os profissionais de saúde sejam vacinados e que os testes voltem a ser gratuitos. Com isso, médicos e hospitais enfrentariam melhor os 60 mil casos diários que aí vêm, que irão saturar urgências e adiar cirurgias, e milhares de infetados assintomáticos – sem capacidade para pagar os testes ou vontade de suportar a despesa – não andariam por aí a espalhar o bicho.

Quando é a oposição que ataca as opções do seu ministério, compreende-se a resistência de Marta Temido – com o mais que certo apoio do dr. Medina, ainda excitado por lhe ter saído a ‘sorte grande’. Mas não agir em tempo, contrariando a ciência e reagindo apenas com o caos reinstalado, pode custar à dra. Temido a aura de eficácia que ostenta.

Antena paranoica, Correio da Manhã, 21mai22

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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