Bem andou a TVI quando se viu livre da ‘Santinha da Ladeira’ e lançou ‘Goucha’ no horário de ‘Júlia’, enfrentando a SIC. De estatuto semelhante, um mais comedido, a outra mais hábil a puxar pelo chorinho, eles assinam momentos para a história da televisão em Portugal. A entrevista de Manuel Luís a Judite Sousa, por exemplo, ou a de Júlia à mãe da jovem Beatriz – que passou pela provação do assassínio da filha às mãos do namorado psicopata – foram conversas tão tocantes que só comunicadores de capacidade superior seriam capazes de desenvolver.
Mas não é possível manter um ‘talk show’ a um nível sempre elevado, sendo o país curto e faltando ‘matéria prima’. Além de que Júlia e Goucha estão ‘presos’ aos interesses das suas estações e são forçados a promover criaturas ligadas a programas que roçam a indigência. E aí, esbarramos noutro drama: o dos ‘jovens turcos’ sem noção que se julgam destinados a serem as Júlias e os Gouchas de amanhã, e a cuja tonta ambição ninguém põe fim. Como parece ser o caso daquele apresentador, modelo de atrevidota ignorância, que classificou o 10 de junho como “dia de Portugal, de Camões e das Forças Armadas”… É verdade: também na frente interna os bárbaros avançam.
Antena paranoica, Correio da Manhã, 2jul22