Alexandre Pais

O Benfica tem marcas que perdurarão

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Com Jorge Jesus em êxtase no sofá da sua casinha, terminou com um coro de insultos e assobios uma nova exibição dececionante do Benfica, cada vez mais firme no terceiro lugar da liga – e tranquilo porque o Sp. Braga também só faz asneiras.

Esta coisa de se chamarem os números dois ou três das estruturas técnicas a substituírem as primeiras figuras – fenómeno que começou de maneira mais nítida quando os adjuntos de José Mourinho foram ganhando vida própria – tem muito que se lhe diga. Se o conhecimento e o talento pegassem de estaca, a sucessão seria simples e sairia barata – era um maná para as sociedades desportivas.

O Benfica saiu-se bem com Bruno Lage, que concluiu com êxito o que Rui Vitória parecia incapaz de acabar. E só veio a sair-se mal porque quando as coisas deram para o torto não acreditou no treinador e cedeu à turba ululante. O trabalho que Lage está a desenvolver no Wolverhampton, contra as expetativas de muitos – incluindo as minhas – é esclarecedora do défice de visão de quem o mandou embora.

Agora, puseram Nélson Veríssimo a fazer de Lage, como se houvesse pessoas iguais e os problemas desaparecessem por ação de iluminados ou passes de mágica. E o principal problema, que não se apaga por decreto presidencial e que deixou marcas que perdurarão – tanto mais quanto menor seja a falta de pulso e de decisões drásticas – é o de um treinador que sucedendo a outro, que alguns jogadores quiseram tramar, e conseguiram, sabe que tem de se ‘portar bem’ com os insurretos ou corre o risco de ir igualmente a andar. O drama do Benfica vai muito para além das bolas que não entram na baliza dos adversários.

Sábado foi um dia triste para o futebol, Messi e Cristiano não jogaram. O argentino tem tido dificuldades em recuperar da covid e o português terá um ‘incómodo’ na anca. Confirmou-se, afinal, o que escrevi há uma semana: com o passar dos anos, a ‘desconstrução’ do corpo apresenta faturas. E se no caso de Leo pouco haveria a fazer, porque o vírus está ao virar da esquina, já o colapso de Cristiano poderia ter sido evitado com um pouco mais de inteligência. Ou será preciso fazer um desenho para se perceber que um futebolista, à beira de completar 37 anos, não pode mais disputar 60 e tal jogos num ano? E que ao impormos a sua presença em três-jogos-três em oito (!) dias, estamos a pôr em risco a sua participação nos desafios seguintes e mesmo a sua integridade física?

Pois foi o que Ralf Rangnick fez com CR7: escolheu-o para o ‘onze’ titular nas três ocasiões e só na partida contra o Burnley – o último classificado! – o substituiu, aos… 90+3. Com uma gestão destas, como chegará Cristiano aos decisivos ‘playoffs’ da Seleção, no final de março, mês em que o Manchester United terá de defrontar, apenas em duas semanas, o City, os Spurs, o Atlético de Madrid e o Liverpool? Terrível cenário esse.

Último parágrafo para a águia Vitória, que pode muito bem andar a trocar mensagens com Pizzi. A rapariga não aceita mais as instruções do seu técnico e antes dos jogos já não comparece no centro do relvado para levantar o lanche. Os maus exemplos têm sempre efeitos colaterais.

Outra vez segunda-feira, Record, 17jan22

Por Alexandre Pais
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