A violência dos incêndios que varrem o país dá-nos uma certeza: nem que houvesse um carro de bombeiros em cada lugar o vento deixaria de espalhar o fogo, provocando a destruição aterradora a que temos assistido. Depois, de acordo com as antipatias e simpatias partidárias, acusa-se o Governo de ‘descoordenação’ e de falta de competência ou atribui-se o mal a causas naturais e ao endémico desleixo dos portugueses, a que nem dez ‘Pedrógãos’ conseguiriam pôr fim. É que quase tão chocante como as imagens de angústia de quem tudo perdeu é continuarmos a ver matas por limpar, árvores encostadas às casas e lixarada avulsa a servir de combustível às chamas.
Não podia faltar também a treta do ‘fogo posto’ – que existe, claro, mas em números residuais – como se os maluquinhos só ‘pegassem ao serviço’ quando o calor é extremo. Se estiverem ‘apenas’ 30 graus, ficam a dormir a sesta. Dão jeito para disfarçar negligências!
Termino fazendo um apelo aos bravos repórteres que enfrentam a calamidade com coragem e espírito de missão: não perguntem às pessoas em sofrimento se estão “preocupadas”. Para quem se sente desesperado, a questão, de tão tola, é um atentado à sua saúde mental. E à dos telespetadores.
Antena paranoica, Correio da Manhã, 16jul22
