Alexandre Pais

No tempo em que a inflação corroía os salários

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Com a inflação acumulada dos últimos cinco anos a rondar os 4 por cento, já poucos recordarão as loucas décadas de 70 e 80, em que a taxa anual subiu até aos 32,2%, como sucedeu em 1983. Vivi esses tempos com pavor, a prestação da minha casa atingia valores exorbitantes e o meu salário não parava de perder valor.
Em janeiro de 1976, o Diário Popular revelava os ordenados dos jornalistas do vespertino Jornal Novo – ótimos para a altura – com o diretor Artur Portela a ganhar 35 mil escudos ilíquidos, um valor que a Pordata calcula que seria hoje de 4.100 euros. Com descontos, cerca de 2.400 euros.
Curiosamente, eram os mesmos 35 contos que eu ganhava em 1982, como chefe de redação do diário Portugal Hoje. Os mesmos é como quem diz, já que, apesar de só terem decorrido seis anos, a Pordata atualiza esse valor para menos de um terço, 1.300 euros, apenas… A explicação está na inflação: 27,1% em 1976, 22,4% em 1977, 23,4% em 1978, 21% em 1979, 12,7% em 1980, e 23,7% em 1981 – um horror.
Até o ordenado de 65 mil escudos brutos do diretor do PH, João Gomes, em 1982, equivaleria, em 2017, a 2.400 euros, valor idêntico ao que recebia – mas livre de impostos – Artur Portela, em 1976, e hoje o salário de um editor. Hoje e provavelmente já não amanhã, que os tempos não vão dados a generosidades.
Parece que foi ontem, Sábado, 9MAR17

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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