Alexandre Pais

Joga-se pouco? Controlam-se as redes sociais!

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Sejamos realistas: o Manchester United foi eliminado da Taça de Inglaterra pelo Middlesbrough, da divisão secundária, só porque Cristiano Ronaldo falhou o que não é hábito falhar, uma grande penalidade? Não só, mas também. É que, em boa verdade, a equipa joga poucochinho e o treinador interino (?), no cargo há mais de dois meses, não parece capaz de dar conta da gestão de tantos egos.

Talvez por isso, Ralf Rangnick se preocupe com as redes sociais e tenha contratado o jornalista alemão Raphael Honigstein para consultor dos ‘red devils’ nessa área, procurando controlar o incontrolável. Trata-se de um submundo em que deambula uma fauna diversificada, vendo-se ao lado de um professor doutor o mais boçal dos ignorantes, passando, claro, pela mole imensa de entendidos em tudo e em coisa nenhuma.

Na maioria das ocasiões, não existe sequer controvérsia para animar as hostes mas unicamente a vontade de insultar quem ponha a cabeça de fora. Ou não ponha, como sucedeu agora com o 37.º aniversário de Cristiano Ronaldo, assinalado por antigos companheiros e pelos clubes da sua vida, com exceção do Real Madrid, que não mais foi o mesmo desde que ele partiu. O ‘esquecimento’ madridista foi compensado por milhares de adeptos merengues, que não só felicitaram CR7 como condenaram a feia atitude do clube.

Com um recorde global de 647 milhões de seguidores – 150M no FB, 400M no Instagram e 97M no Twitter – Cristiano é um verdadeiro deus da ‘net’, sendo os seus ‘haters’, que são igualmente muitos, submetidos a sucessivos ‘pelotões de fuzilamento’ sempre que destilam veneno sobre o ‘target’ preferido – o que acontece todos os dias.

Não creio, no entanto, ter sido por temor, antes pelos créditos acumulados de Cristiano, que supostos adeptos do United – mentecaptos que chafurdam no esgoto das redes – o pouparam pelo castigo máximo desperdiçado aos 20 minutos e assentaram as baterias no elo mais fraco: o jovem Elanga. O sueco de ascendência camaronesa e pele negra, de 19 anos, foi alvo de insultos racistas por ter atirado a bola sobre a trave, no derradeiro remate do desempate por penáltis que levou o ‘Boro’ a seguir na Taça. Se Rangnick continuar a não lograr bons resultados – e vem aí fogo mais intenso – o mundo digital vai desabar-lhe em cima. Bem pode mandar o compatriota à frente antes de ele próprio voltar para casa…

Esse seria um regresso triste, longe da apoteose que receberá hoje, em Lisboa, a Seleção de futsal, para cujas proezas já não existem adjetivos. A dupla recuperação de 0-2, que conduziu à conquista do bicampeonato europeu – levando de vencida a Espanha e a Rússia – foi um hino ao espírito de combate e de superação em que os portugueses são mestres e que tanto nos orgulha. Pergunto: somos os melhores da Europa em alguma coisa que não seja a imbecilidade e a produção de cortiça? Somos, sim – a jogar futsal. Aliás, os melhores da Europa e do Mundo. Chapeau!

Último parágrafo para uma confissão: estou velho. Tão velho que ainda sou do tempo em que se um jogador chegasse primeiro à bola e só tocasse no adversário depois, por ação natural do seu movimento, não havia lugar à marcação de falta. Justos tempos, esses.

Outra vez segunda-feira, Record, 7fev22

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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