Alexandre Pais

Guerra ao caruncho em Belém

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Pelo famigerado relógio de pé alto do Palácio de Belém, que marca sempre a mesma hora, calcula-se o estado de decrepitude dos tarecos da residência oficial do Presidente: os que estão em exposição e os da arrecadação, todos catalogados como património nacional para escaparem à lareira. Marcelo não precisará de primeira-dama para meter na gaveta essa ordem do bicho da madeira e do bafio.
Escrevo isto depois de sentir a ira dos nossos ícones do bom gosto e da modernidade pela escolha do cenário em que o PR se dirigiu aos portugueses, a propósito do Orçamento. Como nos mostraram as imagens da TV, parece ter sido Rui Ochoa a indicar o enquadramento, o que me pareceu bem. Não apenas pela sensibilidade estética do fotógrafo oficial mas também por assim se fazer a transição pacífica entre o antigo inquilino do palácio e o novo. A escrivaninha negra, velha e inútil, ali esteve a lembrar o passado – espartano e avesso a mudanças – e o improviso coloquial de Marcelo, sempre brilhante, pôs os olhos num futuro que a tantos tranquiliza: Cavaco já não mora ali.
Compete agora ao Presidente, mantendo o conteúdo da comunicação, tratar da forma. E isso só se consegue declarando guerra ao caruncho, que teimosamente resiste.
Antena paranoica, Correio da Manhã, 2ABR16

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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