Alexandre Pais

Fernando Vale: o doutor que Coimbra esqueceu

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“O Dr. Fernando Vale é uma encarnação moderna do português de antanho que em cada terra era um símbolo” – Miguel Torga
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Nascido em Cerdeira, apaixonado por Coja e pelas margens do Alva, Fernando Vale tem na Biblioteca Miguel Torga, e nas ruas do concelho de Arganil, o nome perpetuado. O seu exemplo de cidadão militante – como médico e João Semana, democrata, idealista e autoridade moral – perdurará ao desaparecer o último dos homens que hoje, decorrida uma década sobre a sua morte, aos 104 anos, o conservam vivo na memória.
Sendo impossível em breves linhas expor a grandeza do seu percurso, nada melhor do que a definição de Miguel Torga: “Perseguido, preso, julgado, demitido da função pública, nenhuma prepotência o vergou e desviou do recto caminho cívico da tolerância, da justiça e da liberdade”.
Pouco dado a protagonismos, Fernando Vale acedeu ser, entre 1976 e 1980, governador civil de Coimbra, cidade onde viria a morrer, em Novembro de 2004, e onde, injusta e incompreensivelmente, não existe uma rua com o seu nome.
Num tempo em que a política é outra coisa e se perdeu a cultura cívica e humanista de personalidades como Fernando Vale, aqui recordo o poema Homenagem, de Carlos Teixeira, também médico, e seu amigo e discípulo: És serra e és vale, rio de verdades / Memória e lembrança, orgulho lusitano / És porta e és janela, mar de liberdades / És intenção e gesto, ano após ano / És forma e és ritmo em cada momento / Aurora da madrugada à espera de vez / És água e és pedra do livre pensamento / És génese e glória de ser português.
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O centenário que partilhava o segredo da longa vida
Quando completou 102 anos, em 2002, um repórter do 24 Horas fez-lhe a pergunta clássica: qual o segredo para viver tanto e com lucidez? Fernando Vale não hesitou: “É preciso mantermo-nos informados, lermos os jornais, conversarmos com os amigos, procurarmos estar actualizados com o que se passa por cá e no Mundo”. E até quando teve de recorrer à ajuda da lupa, a sua rotina matinal era o café, para a leitura da imprensa do dia…
Parece que foi ontem, Sábado, 13NOV14

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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