Olhando para o ‘medalheiro’ final dos JO, vemos que, em proporção à população, a Espanha teve um resultado semelhante ao de Portugal, mas a Noruega, com metade dos habitantes, ganhou o dobro das medalhas, a Hungria chegou às 20 e os Países Baixos, que têm 16 milhões de pessoas, somaram 36… E há mais exemplos! Por que será?
Quero dizer, sem margem para dúvidas, que me sinto orgulhoso e grato por tudo aquilo que atletas como Patrícia Mamona, Pablo Pichardo, Jorge Fonseca, Nelson Évora, Evelise Veiga, Liliana Cá ou Auriol Dongmo têm dado ao país. Conquistando títulos, ganhando medalhas ou simplesmente esforçando-se por alcançar resultados desportivos de excelência. Já acontecia há muito e voltou a acontecer agora – e com êxito! – no Japão. No entanto, existe um mas…
É que tenho de concordar com António Bessone Basto quando ele afirma: “Para mim, o único atleta português medalhado é o Fernando Pimenta”. Não, não é xenofobia, é a verificação de uma realidade. Porque do que se trata é de denunciar o total equívoco de décadas de política de desporto em Portugal, que o trabalho tremendo dos ‘naturalizados’ para perseguir objetivos deixa a nu. Habituados a situações limite e acolhidos, eles ou as famílias, numa terra que lhes proporcionou melhores condições que os países de origem – já que piores não seria possível – foi a sua vontade de integração, a determinação e a capacidade de superação e de resistência à dor que os catapultou para desempenhos extraordinários. E quando se ouve ou lê que Dongmo ou Liliana ‘falharam o pódio’, em vez de se sublinhar que ficaram a escassos centímetros das medalhas de bronze, isso é de uma estupidez à prova de bala.
Mas porque conseguem eles aquilo de que grande parte dos nascidos no território não são capazes? Porque o modo como funciona (?) o desporto escolar é um erro que ninguém teve ainda qualidade para corrigir. E enquanto os jovens não tiverem acesso, nos estabelecimentos de ensino e cedo, ao que Jorge Vieira, presidente da Federação de Atletismo, define como ‘escola do movimento’, aprendendo a correr, a saltar, a nadar, a lançar, a andar de bicicleta e por aí fora, testando assim todas as suas capacidades para se poderem ‘descobrir’ e fazer escolhas, só teremos alguns talentos no futebol e muitos candidatos falhados a Cristianos Ronaldos.
Aliás, pode dar-se o exemplo do próprio Bessone Basto, talvez o atleta português mais eclético de sempre, que foi meu colega nos Salesianos do Estoril e que, com 14, 15 anos, praticava voleibol, futebol, ténis e tudo o que nos tempos livres lhe aparecesse pela frente. O resultado é conhecido: foi campeão e internacional na natação, no andebol e na caça submarina! E só não foi no râguebi porque não andou por lá o tempo necessário…
Claro que teremos sempre os discursos do ódio. Ou contra os imigrantes apenas porque sim ou aproveitando os relativos insucessos dos atletas para deitarem tudo abaixo. Para essa gentalha, reproduzo o que @jcaetanodias escreveu no Twitter: “Os Jogos Olímpicos são terríveis. Ver todas aquelas pessoas que chegaram lá por mérito próprio, sem serem nomeados por ninguém, sem concursos manipulados, sem terem cartão da Jota, pessoas que se esforçam ao máximo pela recompensa, por serem melhores… que aborrecimento”. Subscrevo, com a devida vénia.
E não termino sem expressar o meu desgosto pela tristíssima figura que Évora e Pichardo andam a fazer com a sua guerra de alecrim e manjerona – mais por culpa do primeiro do que do segundo, parece-me. É uma vergonha a que o COP e a FPA deviam pôr termo. Afinal, quem paga manda.
Último parágrafo para saudar João Vieira, que aos 45 anos se classificou em 5.º lugar na duríssima prova dos 50 km marcha, especialidade em que é, aliás, vice-campeão mundial. Que espantoso atleta… Chapeau!
Outra vez segunda-feira, Record, 9ago21 (versão integral)