Alexandre Pais

E se em vez de inteligentes formos burros?

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Dos países europeus, a Suécia foi dos primeiros a enfrentar com êxito o coronavírus. E fê-lo de tal forma que à medida que resultavam também entre nós as regras aplicadas pelo Governo e pela DGS, o exemplo português recolhia aplausos nos média internacionais, que consideraram Portugal como “a Suécia do sul”. Bons tempos! Hoje, tomara aos suecos ser designados como “o Portugal do norte”… Porque, em defesa da economia, o executivo de Estocolmo – contrariando a prudência das outras nações nórdicas – apostou na “responsabilidade social” para manter as medidas de higiene, o afastamento social e o teletrabalho, reduzindo o confinamento aos grupos de risco. O resultado, sem que se notem ainda efeitos positivos na economia, foi um novo aumento do número de infeções, que se traduz agora em 360 mortos por cada milhão de habitantes – a Dinamarca tem 92 e Portugal… 118. No final de março, a Suécia registava, como nós, cerca de uma centena de vítimas mortais. Um mês e meio depois, já tem mais do triplo: 3 679 para os nossos 1 218!
Aqui ao lado, a oposição contesta nas ruas o prolongamento das restrições, apesar do sucesso sanitário da política impopular de Pedro Sánchez. Os casos positivos têm baixado de forma drástica: de 9 222 no derradeiro dia de março, caíram para 4 800, de média, em abril, e para 670 em maio, com 465 infetados/dia na última semana. Havendo 208 em Portugal, diria que já estivemos melhor na comparação com Espanha.
É nesta situação que partimos para o recomeço do futebol, mais concretamente dos treinos coletivos, animados, é certo, pelos “sintomas” encorajadores que nos chegam da liga alemã, que servirá de cobaia aos outros campeonatos europeus que não foram encerrados. Mas sendo o “pontapé na bola” o alvo preferido dos que odeiam o jogo ou tremem simplesmente perante o desconhecido – no sábado, uma sondagem do “Correio da Manhã” dava conta que só um terço dos inquiridos concorda com o reinício da época – não devia residir no que o envolve a carga maior dos nossos receios.
O que na verdade me preocupa é a aplicação em Portugal do “desconfinamento inteligente” pelo qual optaram os desenvolvidíssimos suecos. É que por cá temos o “desconfinamento estúpido”, exemplificado pela centena de burros que participou numa festa em Moscavide e disparou sobre a polícia – já chegámos aí – ou pelos milhares de descontraídos que no fim de semana encheram algumas praias, deixando antever a rebaldaria em que se tornará o verão português. Será em cima disso que milhares de irresponsáveis sociais se aglomerarão, onde puderem e onde não puderem, para assistir pela TV aos jogos do seu clube. E com tudo junto, lá nos transformaremos num barril de pólvora ao melhor estilo da civilizada Suécia.
Último parágrafo para Luís Figo, que surgiu numa rede social a reclamar, com palavreado solto, do confinamento em Madrid, onde reside. Ter-se-à tratado de uma necessidade de prova de vida ou de um impulso ridículo para se meter naquilo para que ninguém o chamou?
Outra vez segunda-feira, Record, 18mai20

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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