Deixava por vezes os jornalistas ao telefone a falar sozinhos quando achava que bastava de conversa, comia peixe grelhado num restaurante italiano, dizia o que pensava sem se preocupar que houvesse quem não gostasse, tinha uma personalidade colorida e excêntrica – e era de um pessimismo irritante. Advogado e fiscalista, analista de economia no ativo aos 85 anos, Medina Carreira deixou-nos na segunda-feira, vítima de doença que não o impediu de trabalhar quase até ao fim: a 17 de maio último, no seu programa Olhos nos olhos, da TVI24, moderado por Pedro Pinto, debateu com João Salgueiro o futuro da França, a questão do Novo Banco e os problemas causados pela central de Almaraz. Nenhum dos três sabia que o ex-ministro das Finanças do I Governo Constitucional (1976-1978), liderado por Mário Soares, estava ali para a lição do adeus.
Medina Carreira desapareceu poucos dias após a morte de Miguel Beleza, economista e ex-ministro das Finanças de Cavaco Silva. Com José Silva Lopes, falecido em 2015, outro antigo titular da mesma pasta e um “pessimista inveterado”, como o próprio se classificava, Medina formava uma dupla cujos comentários na TV, e também nos jornais, aterrorizaram sucessivos governos. E se nos lembrarmos que já em 2010, o país perdeu, de uma assentada, o fiscalista Saldanha Sanches e mais um ex-ministro das Finanças, Ernâni Lopes, igualmente mestres na comunicação audiovisual e nas críticas ao desvario financeiro a que parecemos condenados, verificamos como em meia dúzia de anos se calaram tantas vozes incómodas para quem sabe tudo e não gosta de ser contrariado. Sem Medina Carreira, mais facilmente nos enganarão.
Parece que foi ontem, Sábado, 6JUL17
Medina Carreira desapareceu poucos dias após a morte de Miguel Beleza, economista e ex-ministro das Finanças de Cavaco Silva. Com José Silva Lopes, falecido em 2015, outro antigo titular da mesma pasta e um “pessimista inveterado”, como o próprio se classificava, Medina formava uma dupla cujos comentários na TV, e também nos jornais, aterrorizaram sucessivos governos. E se nos lembrarmos que já em 2010, o país perdeu, de uma assentada, o fiscalista Saldanha Sanches e mais um ex-ministro das Finanças, Ernâni Lopes, igualmente mestres na comunicação audiovisual e nas críticas ao desvario financeiro a que parecemos condenados, verificamos como em meia dúzia de anos se calaram tantas vozes incómodas para quem sabe tudo e não gosta de ser contrariado. Sem Medina Carreira, mais facilmente nos enganarão.
Parece que foi ontem, Sábado, 6JUL17