Alexandre Pais

Dossier has been – Em defesa do Costa dos Frangos, que era um fabuloso guarda-redes

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Irrita-me ver esta fotografia, que Record voltou a publicar na edição do último sábado. Ela fixa o momento mais aziago da história de um grande guarda-redes: Alberto da Costa Pereira (1929-1990).

Como consequência deste golo, em que a bola, rematada pelo brasileiro Jair, lhe passa por baixo das pernas a caminho da baliza, o Benfica perdeu a sua quarta final europeia, frente ao Inter de Milão (1-0), que jogava em casa. De regresso a Lisboa, e para “suavizar” a ira dos adeptos, o guarda-redes encarnado deixou o aeroporto da Portela sentado numa cadeira de rodas, uma história conhecida de… 45 anos.

Mas a minha incomodidade prende-se com o facto de se recordar Costa Pereira sempre como o “frangueiro” que realmente era, o “Costa dos Frangos” como lhe chamavam até, pelas costas (na cara não eram capazes, que ele não deixava), e não como o extraordinário guarda-redes que conquistou duas Taças dos Campeões Europeus, sete campeonatos nacionais e cinco Taças de Portugal, títulos para que muito contribuíram as suas fabulosas defesas.

De vez em quando, lá saía um “frango”, é verdade, mas a tónica das suas exibições era, por regra, uma segurança absoluta e muitos golos certos evitados pela sua invulgar elasticidade e notável rapidez de reflexos. Em Portugal, ao seu nível, só vi atuar Carlos Gomes, José Pereira e, mais tarde, Peter Schmeichel. Parece que João Azevedo foi igualmente ernorme, pelo menos era o que jurava o próprio Costa Pereira, que o idolatrava.

Quando deixou de jogar e após uma modesta tentativa para enveredar pela carreira de treinador (creio que chegou a treinar o Sp. Braga), tornou-se comentador e tive então o prazer de conviver com ele, na redação do “Diário de Lisboa”, no início da década de 70. Recordo algumas tardes à conversa com ele e com o Neves de Sousa, no Bairro Alto, em que só eram “permitidos” dois temas: futebol e mulheres. Sim, mulheres, que o amigo Costa tinha cá uma folha de serviço que nunca mais acabava.

Era, para a sua época, um homem culto. E era bonito e elegante, um sedutor. Morreu cedo, aos 60 anos (teria agora 79) e dá a ideia que o esquecimento só não se abate sobre ele quando é para martelar naquele azar de San Siro. Isso acontecerá um dia, sem dúvida, que a marcha inexorável do tempo é cúmplice da ingratidão dos homens. Mas não enquanto eu andar por aqui, que não o permitirei.

Querido Alberto, foste fantástico. Aceita um abraço, pelos velhos tempos, lá por onde andas hoje com as tuas histórias de encantar. Tens visto o Neves? E acredita: só não destruo esta foto tramada porque não vale a pena, copiaram-na já milhões de vezes. Se soubesses o que é esta coisa da internet, passavas-te, pá.

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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