Record levou anteontem a cabo mais um inquérito à boca das urnas de um ato eleitoral. Acertámos na projeção das vitórias de José Eduardo Bettencourt e Luís Filipe Vieira, em 2009, falhámos desta vez com o anúncio da provável vitória de Bruno de Carvalho.
Fizemos o trabalho da mesma maneira, inquirimos mais associados do que nunca – 1.722, 12% do total – atribuímos uma margem de erro superior e inferior, e mesmo assim o “máximo” de Godinho Lopes, 37,7%, estava abaixo do “mínimo” de Bruno de Carvalho, 38,1%. O erro residiu na ponderação final, da exclusiva responsabilidade do diretor deste jornal.
Da manhã para a tarde, no inquérito Record – que terminou demasiado cedo, às 18 horas – Godinho Lopes subiu de 35 para 38%, mas Bruno de Carvalho cresceu igualmente, de 38 para 40%, o que tornou imprevisível a sua queda, para 36%, nas duas últimas horas, perdendo votos não para Godinho Lopes, que caiu também para os 36,5%, mas para Dias Ferreira, que aumentou, inesperadamente, de 13 para 16,5%. Moral da história: o diretor de Record falhou ao não destacar uma terceira equipa de jornalistas para acompanhar a votação até ao fim e voltou a falhar ao não se decidir, na publicação do inquérito, pelo empate técnico – embora se alertasse no texto para o facto de o triunfo da Lista C não estar garantido – quanto mais não fosse por tomar de Conrado a prudência.
Mas a maratona eleitoral não terminaria sem novo erro, com a comunicação social, no seu todo, a aceitar como fidedignas informações que alguns delegados passavam cá para fora – para não comentar sequer a inacreditável intervenção de Rogério Alves – e a dar a vitória, sem confirmação, a Bruno de Carvalho, fosse porque havia segundas edições sem poder fechar, fosse porque a verdade oficial tardava tanto, tanto, que só o caótico discurso do ocasional presidente da AG leonina, Lino de Castro, às 6 da manhã – o que quereria ele dizer com aquela conversa das “afinações”? – nos permitiu comprender a confusão absoluta de uma noite que não honra nem os jornalistas, nem os sportinguistas. Ao que se pode acreditar, não houve sequer “recontagem” de votos, pelo que o seu anúncio foi mais uma precipitação. Enfim, uma noite não para esquecer, mas para recordar porque não a poderemos repetir.
Uma palavra ainda para quem nada teve a ver com isto e foi indevidamente maltratado: Godinho Lopes. Ele dispôs, para lá de outras, da virtude de saber que as eleições são como o futebol: só acabam quando soa o apito final, ou seja, quando se soma, a todos os outros, o último voto. Parabéns.
Editorial, publicado na edição impressa de Record de 28 março 2011