1. Nunca aprenderei a fazer nada pela
Internet. Não por rejeitar o fenómeno ou as novas tecnologias, já que tenho
conta no Twitter, no Facebook e no Instagram, e utilizo-as com a regularidade
permitida pelo meu tempo disponível. Mas simplesmente porque me dou mal com
máquinas, porque me irrito quando me dizem que elas têm sempre razão, porque
sou rejeitado até quando finjo que as amo. E a net, não sendo uma
máquina, tem muito da sua frieza, da sua ilógica, da sua falta de alma.
Nem com o fisco consigo manter, online, uma relação normal: esqueci-me
da password, já pedi outra e nada de nada. Com o cartão de débito
virtual a dificuldade é idêntica. Aparecem-me no extrato despesas que não fiz e
a segurança que me é proposta pelo banco – ou pela menina do call center
– torna a operação, de complexa, inexequível.
2. Escrevo esta crónica ainda cansado
pelo confronto entre Nadal e Djokovic, em Roland Garros, quase cinco horas de
grande ténis interpretado por dois jogadores de ferro, tanto do ponto de vista
físico como psicológico. Mais do que o desporto, interessam-me os seus
protagonistas, em especial os que, dispondo da rara qualidade da superação, nos
permitem viver momentos inesquecíveis.
3. Cortes, cortes, cortes… Pois é, o
Estado engordou de mais, ou melhor, nós é que empaturrámos o monstro com comida
fiada e agora aparece-nos o merceeiro à porta e não lhe conseguimos pagar. O
pior é o resto. Quando o problema se encontra na competência, os efeitos da crise
atenuam-se, como ficou provado com a ação da Polícia Judiciária na última
semana. De burlões de velhinhos a contrabandistas, passando por agricultores
de haxixe houve um vendaval de detenções próprio de tempos não de austeridade
mas de fartura. Mas se os resultados se prendem com quantidade, o caso já fia
mais fino: num dia, sabemos de uma aluna violada nas imediações da sua escola,
no dia seguinte morre um jovem à porta de outro estabelecimento, com os agentes
de ensino a queixar-se, nesses casos como noutros, da escassez de policiamento.
Não esperemos que a situação melhore. Pelo contrário, irá piorar com os
milhares de despedimentos que se anunciam na função pública e que continuarão a
atingir também as forças de segurança.
4. Numa estação de televisão de
referência, uma jornalista-estrela, habitualmente segura, disse isto: “Faz hoje
dois anos que o Governo ganhou as eleições”. Ora, não só os governos não
disputam eleições – e os de coligação, então, têm pelo menos um partido que as
perdeu – como o atual executivo só tomou posse a 21 de junho. A verdade é que
Passos Coelho e os analistas de serviço começaram logo a fazer balanços. Coisas
estranhas acontecem.
Observador, crónica publicada na edição impressa da Sábado de 12 junho 2013. Tema de Sociedade da semana: fazer “coisas” pela Internet