Deliciei-me com a catadupa de indignados comentários que os doutores da bola – entre os quais ouso incluir-me ainda que com um modesto bacharelato – dedicaram à “ingratidão” do Real Madrid com Casillas, na altura da sua despedida do Santiago Bernabéu.
Já todos se esqueceram da forma como Alvalade tratou Manuel Fernandes, da porta dos fundos por onde Fernando Gomes deixou o FC Porto e José Águas e Eusébio abandonaram a Luz. Ou de como Matateu se viu forçado a sair do Restelo para a Tapadinha. Quando o rendimento baixa, os clubes – e os respetivos treinadores – desprezam os mitos, afastam os capitães, ignoram as horas de glória que as suas maiores figuras lhes proporcionaram, e tudo perante a complacência de boa parte dos associados, mais interessados em carne fresca, mesmo que ela possa não ser boa coisa.
Com o advento das SAD, essa falta de “coração” transformou-se em puro negócio e é ver as estátuas a partir-se e os ídolos a caírem fora. O caso de Ricardo Quaresma é sintomático. Não sendo propriamente um símbolo portista, não gostando de ser suplente e não falando espanhol, tornou-se num incómodo para Lopetegui e, perdido o que julgava ser o porto de abrigo definitivo, lá vai ele de novo para a Turquia e agora, se calhar, para o banco do Besiktas.
Quanto a Casillas, que no Real já não servia para Mourinho e não servia para Ancelloti – até ao dia em que o balneário retomou o poder –, se pensa que veio para o Porto para ter menos pressão, enganou-se. E vai ser a plateia do Dragão, que começará por aplaudi-lo, extasiada, a primeira a assobiá-lo quando passarem por ele as bolas difíceis – que sempre chegam. Com Helton no banco, Iker terá tolerância zero. Afinal, é um homem marcado.
Canto direto, Record, 20JUL15
Casillas é um homem marcado
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