“Os adeptos do Sporting não deviam pagar a sobretaxa de IRS de 4% porque são pessoas que já sofrem o suficiente na vida” – escrevia anteontem, no Twitter, com humor, @joaomhenrique, um dos muitos observadores interessados na realidade leonina. É o meu caso, que bem conheço a influência das derrotas dos maiores clubes portugueses – e não me refiro apenas aos três grandes – no estado de espírito dos seus seguidores na altura de se aproximarem das bancas.
Ao ver o “passe” de Boulahrouz para o terceiro golo do Videoton – de Caneira e Paulo Sousa, calcule-se a humilhação – dei comigo a pensar como melhorou a defesa do Sporting desde que Polga se foi embora… É que não consigo encontrar, na mão cheia de centrais do leão, ningém melhor que o internacional brasileiro, que deixou Alvalade simplesmente porque havia quem estivesse “farto” dele!
Tratou-se do mesmo critério, ou ausência dele, que levou Paulo Bento a bater com a porta para não ter de aturar mais os insatisfeitos – ou talvez até “revoltados” – com os quatro segundos lugares consecutivos do Sporting. Realmente era desilusão a mais, como as temporadas seguintes demonstraram.
De tiro no pé em tiro no pé, chegámos ao consulado de Sá Pinto e a um plantel multinacional e sem referências, que acumularam desastres e não deixaram perceber se perseguiam um rumo ou se iam sobrevivendo sem ele. E quando, à meia hora do jogo de quinta-feira, saiu o capitão (?) Rinaudo, fiquei com a sensação que o experimentalismo do treinador continuava e que a equipa vivia ainda a fase incaraterística de um início de época.
Gosto da determinação de Sá Pinto e admiro o seu sportinguismo, mas nunca acreditei que o voluntarismo, a insistência no “muito fortes” e o apelo à garra pudessem resolver o problema da falta de rendimento da equipa. O Sporting não vai lá com fé, precisa de parar para pensar e mudar de atitude. E se calhar de organização. O problema é saber como dar essa volta, agora que o mau da fita saiu de cena. Porque se o novo técnico se abraçar sempre ao Paulinho, e só ao Paulinho, tudo ficará na mesma.
Canto direto, publicado na edição impressa de Record de 6 outubro 2012