Passos Coelho é talvez o político português que melhor utiliza a televisão em seu proveito. Dotado de boa imagem, enfrenta as câmaras de modo diverso de Sócrates, igualmente um temível comunicador. Enquanto o seu antecessor, dominando o verbo, convencia os convencidos e arrepelava os cabelos dos que não gostavam dele, Passos usa a moderação para baixar a guarda aos adversários.
A resposta ao “apelo” à indignação de Mário Soares foi o exemplo perfeito de um contra-ataque com conta, peso e medida. O chefe do Governo não atacou a figura do ex-PR e ex-primeiro-ministro, evitando irritar os que com ele simpatizam, mas lembrou as duras medidas impostas por Soares para fugir à bancarrota.
Também no comentário sobre a greve geral Passos Coelho foi hábil, reconhecendo não o direito, que é óbvio, mas a existência de motivos para o descontentamento, sublinhando embora que a saída da crise passa pelo trabalho e não pelo protesto. Com isso, ganhou novos apoios e refreou a ira dos que pensam de modo contrário.
Aprovado em comunicação com 20 valores.
Antena paranóica, crónica publicada na edição impressa do Correio da Manhã de 26 novembro 2011