Alexandre Pais

Antena paranóica: o álcool que embala o berço

A

Há truques velhos como o Mundo. Nos anos 50, do século passado que ainda não houve outros, andava eu na escola em Canas de Senhorim e um inofensivo e simpático doente mental à solta pelas ruas, o Mário.

A malandragem de então, uma minoria de desocupados que se entretinha nas tabernas, tinha o péssimo hábito de oferecer uns copos ao Mário, que bebia até cair de bêbado. A seguir, claro – e era isso que a audiência pretendia –, o pobre desatava a fazer disparates, sendo um trinta-e-um para o segurar.

Aconteceu algo de semelhante há dias, na “Casa dos Segredos”, da TVI, quando um concorrente, tomado pelos vapores do éter, se pôs aos empurrões aos colegas de “fama”, e acabou por ser expulso, em cenas “dramáticas”, a puxar para o choradinho.

Vieram depois as oportunas lições de moral ao rapaz, com Júlia Pinheiro – que tem aquele dom de colocar o seu ar mais sério quando trata de banalidades – a comandar as tropas de elite dos costumes. Sempre, evidentemente, escondendo a mão que embala o berço, ou melhor dizendo, o álcool que a produção meteu dentro da casa para emborrachar os concorrentes.

Meio século mais tarde, a pobreza dos anseios das audiências mantêm-se – e não são pedidos, são ordens.

Antena paranóica, publicado na edição impressa de Record de 4 dezembro 2010

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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