Confesso que comecei a ver o primeiro episódio de “Último a sair”, da RTP, e mudei para “Peso pesado”, da SIC, logo que surgiu a patética cena em que Marco Borges ameaçava partir tudo. O tempo a voltar para trás tem, por vezes, momentos insuportáveis.
Regressei esta semana à estação oficial depois de ter apanhado toda a gente lá em casa, no Youtube, a desmanchar-se com alguns diálogos hilariantes. E concentrei-me nas palavras na altura certa, quando Roberto Leal e Bruno Nogueira iniciavam a conversa sobre a “aparição” da Senhora.
Ainda julguei estar a sonhar, pois parecia-me absurdo que um cantor que tem feito da religiosidade uma das imagens de marca do seu negócio aceitasse brincar com um tema que podia ferir susceptibilidades.
Compreendi depressa que a qualidade do texto e a fronteira que estabelecia entre a graça e o mau gosto eram de tal forma evidentes que só pessoas muito estúpidas se conseguiriam ofender em vez de aproveitarem a oportunidade para se rirem com gosto.
Ainda por cima, Roberto Leal revelou capacidades histriónicas que lhe desconhecia e que fizeram com que nada perdesse no seu confronto com o humorista, um actor admirável. E fiquei fã do programa, essa é que é essa.
Antena paranóica, crónica publicada na edição impressa do Correio da Manhã de 25 junho 2011