Chegava carregado de sacos. Despejava tudo em cima da secretária e convocava a redação para a catarse. Escolhia, entre dezenas ou centenas, as fotos para a edição da semana e metia-se à escrita. Tempo depois, nova chamada, então para que Abel Dias lesse em primeira mão a crónica interminável que alguém teria a seguir de conter dentro dos limites.
Nunca encontrei um profissional assim, que juntasse à memória um conhecimento profundo de lugares e de pessoas, sendo capaz, sozinho, de fazer de produtor, fotógrafo, repórter e entrevistador. O Abel, com quem trabalhei nas revistas Élan e Dona, entre 1987 e 1995, continua no ativo. E com a reforma da grande Maria Guadalupe e o desaparecimento de Carlos Castro bem pode considerar-se o último cronista social do país, ainda que isso seja hoje outra coisa.
Abel Dias numa festa do Trumps, em 1988, com o escriba (à esquerda, a fazer de emplastro) e José Caetano Pestana, grande figura da noite lisboeta nas décadas de 80 e 90
O dia em que um conflito de interesses irritou o patrão
Durante muitos anos, Abel Dias trabalhou na Impala, sendo famosos no meio jornalístico os seus diferendos com o patrão do grupo, que num dia o despedia para no outro o Abel se readmitir a si próprio. Uma vez, irritado com o excesso de referências comerciais num texto da famosa e polémica Daniela, na Nova Gente, Jacques Rodrigues irrompeu pela redação e advertiu: “Ò sr. Abel, você faça lá os seus negócios, não me dê é cabo do meu!” Toda uma lenda.
Parece que foi ontem, Sábado, 24JUL14
Abel Dias: o último cronista do social
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