Alexandre Pais

Uma estúpida novela que chega ao fim

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Está por horas o epílogo da estúpida novela ‘Adivinhem onde vai jogar Cristiano Ronaldo’. O guião foi quase todo construído pelos ‘aziados’ por duas décadas de sucesso de um jogador que auferiu, entretanto, mais de mil milhões (!) de euros – um pedregulho ao pescoço dos falhados e dos invejosos. Certo é que quanto mais anos passam mais se aproxima o final da carreira e a vitória da tese do ‘acabado’, tão inevitável quanto a morte.

Há dias, a propósito de Bernardo Silva, ouviu-se de Guardiola: “Não recebemos nenhuma chamada de nenhum clube a respeito dele”. Outro ‘acabado’? Não. O que não falta por aí são candidatos a contratar um dos melhores médios ofensivos do Mundo. O problema é que seria preciso pagar uma fortuna ao City e ter ainda disponibilidade financeira para derreter outra fortuna no contrato de Bernardo.

O mesmo acontece com Cristiano: custa demasiado dinheiro, com a questão suplementar de se transformar, pelo seu ‘peso’, num elefante numa loja de porcelana. Mas no meio de todas as figurinhas a quem a especulação jornalística deu a oportunidade de vir à ribalta ‘rejeitar’ Cristiano, ‘chapeau’ para Luciano Spalletti, técnico do Nápoles, que confirmou o óbvio: “Nenhum treinador do Mundo diria que não”. Eis um homem.

A iminente contratação de Antony – que marcou menos golos em duas temporadas no Ajax que Cristiano só na última, no United – pode ser decisiva para que Jorge Mendes apareça, na quarta-feira, com a boa notícia que quase todos esperamos. É que se para CR7 é importante jogar na Champions, a nós preocupa-nos é a condição em que ele estará no Mundial, dentro de três meses. E antes disso, como poderá ajudar a Seleção a qualificar-se para a Final Four da Liga das Nações, em menos de um mês. Com Bernardo, William, Leão, Rúben Neves, Dalot, Félix, João Mário ou Diogo Costa em grande forma e um conjunto de jogadores de ‘top’ que tão cedo não se repetirá, contar com um Cristiano no seu melhor desta fase do percurso seria fantástico. Ainda que ‘ninguém’ o queira – como juram, deliciados, os ressabiados – nós precisamos dele.

Uma outra novela, esta em repetição, é a de Cavani, de novo a deixar a decisão de assinar contrato mesmo para o finzinho. O Benfica teve a felicidade de não levar com ele, quando foi para o Manchester United somar-se à desgraça. Lesionado semana sim semana talvez, cumpriu 20 jogos na época passada, a maior parte incompletos, e marcou… 2 golos. Esse não está ‘acabado’! Agora, dispõe-se o Valência a pagar-lhe um balúrdio… É o que se chama deitar dinheiro ao lixo.

Derradeiro parágrafo para o público que assistiu, em Leiria, à final da Supertaça do futebol feminino. Pais e filhos, famílias juntas, e muitas igualmente divididas no apoio ao Sporting ou ao Benfica, com camisolas e bandeiras de ambos os clubes, algumas a par, numa grande jornada de cor, entusiasmo e maturidade cívica. Aqueles que, como eu, acham que as claques fazem falta ao futebol sofreram no sábado um rude golpe. E não me custa mudar a abordagem: o futebol precisa apenas de protagonistas de gabarito nos relvados e de bons adeptos nas bancadas. Tudo é mais bonito nos estádios quando os cavernícolas ficam em casa, a curar as ressacas. Pena que não seja sempre!

Outra vez segunda-feira, Record, 29ago22

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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