Reina a indignação na urbe porque a juíza, que julga lá as misérias em que se meteram, tratou Bárbara Guimarães apenas pelo nome próprio e Manuel Maria Carrilho por senhor professor. Não acompanho essa cólera. O cidadão comum vê as figuras da TV, que lhe entram em casa, como pessoas suas conhecidas e como tal se lhes dirige. Já a subserviência aos professores doutores é um tonto hábito que vem de longe e que estupidamente persiste.
Muitos dos indignados, sorte deles, não sonham sequer com a forma arrogante e indelicada com que boa parte dos magistrados usa o seu poder discricionário, em especial nos casos em que essa conduta não pode chegar ao grande público.
Em meio século de carreira, fui três vezes a julgamento por suposto abuso de liberdade de imprensa: em duas fui absolvido e na outra – que refiro na peça do post seguinte – nem julgado fui. Mas não esqueço o modo indecente como, há 20 anos, eu e o jornalista Luís Rosa Mendes fomos tratados – eu era o sr. Pais e ele o sr. Mendes, nem os nomes profissionais o juiz respeitou – enquanto o queixoso, o sensível e saltitante apresentador Baião, era consultado sobre a continuação das audiências, marcadas após a consulta da sua importantíssima agenda. A justiça tornou-se num jogo – e quem tiver azar que aguente.
Observador, Sábado, 25FEV16