“Quando a lenda é mais interessante que a realidade, imprima-se a lenda” – John Ford, cineasta norte-americano (também ele lendário)
Quando cheguei ao Diário de Lisboa, em Fevereiro de 1972, na redacção via-se ainda a impressão digital de Joaquim Letria, que trocara o Bairro Alto por Londres, para trabalhar na BBC – o que só intensificava a aura da estrela que partira. Conheci-o depois, numa das suas vindas a Lisboa, e reencontrei-o, em 1974, em vésperas do 25 de Abril, quando fui a Brighton fazer, para o DL, a reportagem do Festival da Eurovisão.
O semanário Sempre Fixe pediu-me então um texto para duas páginas sobre Londres e não fosse a ajuda do Joaquim para o envio da prosa – por telex! – ainda hoje eu andaria à nora nos correios. Fomos depois para a BBC e, à conversa madrugada fora, pude comprovar que o proveito correspondia à fama: mais do que um jornalista, um repórter, um comunicador, Letria era uma figura.
A revolução levou-nos para caminhos distantes e só nos reencontrámos, em 1999, quando ele voltou a dirigir o Tal & Qual – que fundara em 1980 – e no qual se manteria, desta vez, apenas alguns meses. Acossado pela programação popular dos canais de TV em luta pelas audiências e pela agressividade de um tablóide, o 24 Horas, o semanário entrara já na fase de declínio que o levaria ao encerramento, em 2007. Letria era um peixe fora de água e talvez um dia aqui conte como foi sabotado. Agora, prefiro saudar Fátima Lopes e a TVI por terem recuperado para a televisão um profissional que mudou a informação em Portugal e com isso se transformou num ícone, numa lenda.
Um comunicador de percurso longo e multifacetado
Começa no Diário de Lisboa, em 1961. A partir daí, vai da Flama ao Rádio Clube Português, da Associated Press à BBC, até chegar à RTP, em 1974. No ano seguinte, integra a equipa fundadora do semanário O Jornal, depois trabalha na ANOP e volta à RTP, onde cria o programa Tal & Qual, que dirigiria mais tarde como jornal. Assina vários trabalhos para TV, é porta-voz de Ramalho Eanes em Belém, faz rádio, dirige a primeira versão da Sábado, dá aulas, lança um livro e espalha crónicas por títulos que vão do DN ao 24 Horas e ao CM. Joaquim Letria completa este sábado 71 anos.
Parece que foi ontem, Sábado, 6NOV14
Joaquim Letria: lenda da informação regressa à TV
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