Luís Filipe Vieira sofreu, na AG de anteontem, uma derrota inesperada. Ou talvez não. Se a memória dos homens existisse, o “chumbo” do relatório e contas de 2011/12 poderia ter acontecido na mesma. O que não sucederia certamente seriam os assobios, os insultos e os pedidos de demissão, fruta da época.
Essa falta de memória, e a quase total ausência de gratidão, são desgraçadamente comuns, mais do que no futebol, na própria vida. E hoje já pouco conta a imagem do Benfica que Vale e Azevedo deixou por herança, tempos sinistros em que um mamarracho de cimento a prometer um museu que nunca avançou, junto à Segunda Circular, era troféu que envergonhava todos os benfiquistas.
A não aprovação das contas deve ser encarado como um ato normal. Eu diria até salutar num país onde só o assalto repetido aos nossos bolsos parece ter despertado as pessoas para o funesto resultado que dá comer e calar. É verdade que eram apenas 600 sócios, uma gota no mar vermelho, mas as assembleias-gerais são assim: só contam os que lá vão.
Já o tratamento insultuoso dado a um homem que, com todos os seus defeitos, tem procurado servir Benfica, surge como algo injusto, que só pode resultar do turbilhão de paixões que o futebol gera e que encontra no insucesso o melhor dos combustíveis para a sua chama. E ver o FC Porto a começar a fugir, à 4.ª jornada, após o empate dos encarnados em Coimbra, foi o fósforo que ateou o fogo.
A explicação do “vice” Rui Cunha de que a aplicação do Método de Equivalência Patrimonial transformou, na engenharia contabilística, 452 mil euros de lucro em 12,9 milhões de prejuízo a somar ao passivo, entrou por um ouvido e saiu por outro. A raiva dos associados era a outra, infelizmente. Porque sofremos já, no país, a aplicação do Método da Falência Patrimonial. E está a doer. E vai doer mais.
Canto direto, publicado na edição impressa de Record de 30 setembro 2012