Já aqui manifestei a minha simpatia por Vítor Pereira, pela sua postura simples e serena, e pelo seu percurso discreto de “self made man”, que a vida faz-se com diplomas mas igualmente a pulso, com trabalho e determinação.
Compreendo que Pinto da Costa tenha até hoje dado suporte à permanência do técnico no comando da equipa portista e não só por ter sido uma escolha sua e não querer – porque é dessa massa que é feito – dar o braço a torcer à primeira desilusão, mas também porque sabe que os treinadores não pegam de estaca e por vezes um pouco de paciência pode resolver os problemas.
O drama é que a paciência não é infinita e à primeira desilusão, a eliminação da Taça de Portugal, seguiu-se a segunda, a do afastamento do Benfica na Liga – situação ainda reversível, mas complicada – e da segunda aproxima-se já a terceira, a provável eliminação da Liga dos Campeões.
Restará a Taça da Liga, longe de estar conquistada, e o até agora único êxito da época, a Supertaça, insuficiente para satisfazer as expetativas criadas e o orgulho do Dragão.
O que me custa, neste ocaso da estrelinha que começou por brilhar para Vítor Pereira, é que o treinador portista anda, ou andou, lá perto. Ainda agora, no confronto com o Manchester City, o FC Porto teve períodos interessantes e liderou a espaços os acontecimentos, com transições rápidas e simples a morrerem por bloqueios de jogo à entrada da área adversária – com Hulk a sentir a necessidade de fazer tudo e a não conseguir executar o que é capaz.
Falta ao onze o clique na ponta final, o golpe de asa de um Falcão, como falta lá atrás um central, e bastava um, de categoria internacional.Vítor Pereira parece-me mais vítima de um plantel que se desequilibrou do que de si próprio, mas dificilmente fugirá ao destino que se avista.
A teimosia de Pinto da Costa não é cega e a fidelidade à sua gente não se sobrepõe aos interesses de um emblema viciado em ganhar.
Canto direto, publicado na edição impressa de Record de 18 fevereiro 2012