Quando os jogadores do Porto diziam que havia diferenças de tratamento, eu, que estava em Lisboa, considerava essas afirmações como desculpas. Agora vejo que, de facto, tinham razão as queixas. Não leitor, a frase não é minha, pertence em boa verdade a Augusto Inácio, no decurso de uma entrevista concedida ao jornalista José Cruz, para o semanário “Off-Side”, em Dezembro de 1982, estava o ora braço direito de Bruno de Carvalho na sua primeira época de jogador ao serviço dos portistas – depois de ter deixado o Sporting (campeão e vencedor da Taça de Portugal), sim, que a vida são muitas vidas.
Inácio ensaiava então apenas os primeiros tiques de uma postura que iria endurecendo até chegar a treinador adjunto do FC Porto, 12 anos mais tarde, altura em que atingiu o pico da especialização no “nós contra todos” tão próprio dessa máquina de sobrevivência que a necessidade e o engenho levaram Pinto da Costa a fazer da estrutura do clube.
Lopetegui tardou a entrar no registo. Aliás, tentou adotá-lo cedo, mas a indefinição quanto à equipa e à filosofia de jogo, e os pontos perdidos na fase inicial da liga forçaram-no a arrepiar caminho. Além disso, trouxe para cá espanholada a mais para o nosso gosto chauvinista. E teve, assim, de ler e ouvir críticas ferozes, algumas justas, e enormidades avulsas para as quais só existe coragem quando o alvo são os dragões.
Agora, passado esse cabo de tormentas e tendo conseguido construir quase do zero um onze – ou um dezoito – muito mais forte, Lopetegui, com a bênção dos deuses da casa, claro, retoma o discurso duro e desafiante que se viu na conferência de imprensa em Braga. O FC Porto é a organização da estratégia permanente. E o treinador basco encontrou o tom para a servir como ninguém.
Canto direto, Record, 9MAR15