No episódio inicial de “Golpe de sorte”, na SIC, temi o pior, quando, no espaço de carga de uma camioneta, uma mulher deu à luz, de pernas voltadas para a parte aberta da caixa e para quem assistia na rua… As realizações portuguesas sofrem dessa pecha: adaptam o que deviam ser exigências à comodidade da produção, em vez de procurarem reduzir ao mínimo as situações inverosímeis.
Outro exemplo cruel: na sociedade recreativa de Alvorinha, cheia de gente a meio da manhã – como se não houvesse mais televisores na terra – via-se a nova milionária no “Programa da Cristina”, com as mesas repletas de cervejas e tremoços, incrível amadorismo.
A sorte da SIC é o resto. Uma história com a qual o público se identifica e um “cast” de notáveis fazem a glória da série. Mas a cereja no topo é Maria João Abreu, uma atriz que cresceu a pulso, que investiu na contínua melhoria dos seus desempenhos e que é hoje simplesmente extraordinária.
E uma palavra é ainda devida às cerejinhas, uma plêiade de atores de tocante qualidade: Manuela Maria, Rui Mendes, Vítor Norte, José Raposo, Helena Laureano e Henriqueta Maya, essa pérola tão injustamente esquecida. É muito talento junto, só podia dar em sucesso. Chapeau!
Antena paranoica, Correio da Manhã, 15jun19
Golpe de talento e algum amadorismo
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