Passos Coelho só tem desgostos: num dia, é o défice de 2016 que cai para os definitivos 2%, no outro é o Conselho de Finanças Públicas a confirmar que esse resultado sem medidas extraordinárias teria sido de 2,5% – o que coincide com o objetivo inicial aprovado pela UE – e no outro ainda é a previsão do défice para 2017, a descer de 1,6 para 1,5, e a de 2018, a apontar já para 1%.
Este milagre é explicado, na verdade, por uma situação bem real: aumento galopante do turismo – que um atentado em Lisboa ou no Porto poderia travar (Paris que o diga), o diabo que seja cego e surdo –, desinvestimento em obras públicas e cativação de despesas com a consequente degradação dos serviços do Estado.
Há dias, no regresso de férias, pude ver um efeito sinistro dessa degradação: uma fila gigantesca de turistas desesperados para entrar no país, duas (!) cabinas do SEF abertas, seis ou sete fechadas e trabalho para umas duas horas. Quando deixei o aeroporto, nos tapetes rolantes rebolavam umas por cima das outras as bagagens dos palermas – chineses, norte-americanos, russos ou brasileiros que vêm cá largar o seu dinheirinho.
E quanto à antes tão temida – e tão necessária – ASAE, basta assistir, na TVI, a Pesadelo na cozinha, para vermos a desgraça a avançar. Como irá acabar o milagre português?
Observador, Sábado, 20ABR17
O milagre português
O