Lisboa parecia, em Junho de 1968, uma capital da cultura. A 5, estreara-se no Teatro da Trindade o Rigoletto, de Verdi, pela Companhia Portuguesa de Ópera, com encenação de Tomás Alcaide, e no dia 7 o Royal Ballet dançava no São Carlos. Mas na noite de 6, no Coliseu dos Recreios, o Festival Gulbenkian de Música proporcionava o momento alto da semana, com uma adaptação de Romeu e Julieta, de...
Jorge Sampaio: o primeiro-ministro que não tivemos
Aos 8 anos, frequentou uma escola primária nos Estados Unidos, aos 12, em Londres, foi sozinho ver a Câmara dos Comuns e assistir aos debates. Começou dessa forma a criação do mundo político de Jorge Sampaio, cuja carreira dispensa palavras. O que quero referir é a semelhança do seu percurso com o de António Costa, como ele presidente da autarquia alfacinha e que parecia ter – de acordo com as...
A primeira grande cisão no PS
Desgraçadamente adequada aos nossos dias, a frase é do poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade: “Que século, meu Deus! – exclamaram os ratos. E começaram a roer o edifício” A primeira grande cisão no PS A acção contra-revolucionária de 28 de Setembro de 1974, que opôs militares conservadores aos puristas do 25 de Abril e levou à demissão do Presidente António de Spínola, dividiu igualmente a...
O arquiteto que fundou o MPT
Apesar de já não ser um adolescente, entrei com nervosismo no edifício da Rua Gomes Teixeira em que tinha o gabinete, em Outubro de 1982, o então ministro de Estado do Governo da AD, Gonçalo Ribeiro Telles. Não era a entrevista para o semanário Off-Side que me agitava, mas a emoção de ir conhecer uma apaixonante figura da democracia, que admirava desde que integrara as listas da CEUD, de Mário...
A mordedura da serpente
A vontade de não ter filhos é tão respeitável como a de os ter, ambas pertencem ao domínio da liberdade individual. Mas não acredito que a decisão de não trazer ao Mundo uma criança – excepto se existirem impedimentos graves – se baseie apenas num capricho, numa alegada falta de vocação para ser mãe ou pai – se for esse o caso, haverá então talento para fazer bem feito o quê? O não porque não tem...
Crónicas da Sábado: um dia, contem-me como foi
Como recordarão os vindouros Pedro Passos Coelho? Como o primeiro-ministro que nos salvou da bancarrota e evitou o colapso total da economia ou como o político ambicioso, que prestou vassalagem aos senhores do dinheiro e fez cair de novo os portugueses na pobreza e no atraso? Com o País mergulhado num proceloso mar de ódios e paixões, dividido entre os que insultam o líder do Governo, acusando-o...
Uma década de privilégio (a propósito dos 10 anos da Sábado)
Casei-me aos 20 anos e deixei a casa dos meus pais para ir morar com os meus sogros. As minhas filhas mais velhas – a mais nova está longe ainda desse dia estranho e angustiante – escapando ao erro do casamento precoce, não caíram assim num segundo e fatal equívoco que é o de começar a vida num espaço que não é nosso. E também por volta dos 20, 21 anos, criaram, as três, a sua independência e...
Os culpados pela indisciplina escolar
Um estudo divulgado a semana passada dá conta do preocupante aumento da indisciplina nas escolas portuguesas. O contrário, reconheço, é que me espantaria. Oito em cada dez professores concordam no agravamento do problema, dividindo as responsabilidades, quase em partes idênticas, pelos pais, pelas políticas governamentais e pelos alunos. Apenas 3% dos inquiridos atribui as culpas pelo triste...
O Rodrigues dos Santos
Confesso-me espetador fiel da charla dominical de Marcelo Rebelo de Sousa, na TVI, e do plus que constituiu o contraponto leal e sereno, e ao mesmo tempo vivo e profissional, de Judite Sousa. As audiências, aliás, confirmam que faço a escolha certa. Mas as boxes milagrosas permitem que, finda a lição do professor, se assista ao desempenho integral de José Sócrates, na RTP1, agora valorizado pelo...
Reformados vão ser roubados em definitivo
Aquilo que o professor Adriano Moreira classificou como neoliberalismo repressivo exibe no ataque às reformas a sua expressão mais selvagem. Não pertenço ao clube dos poetas vivos que vê como sagradas as verbas a que têm direito os pensionistas do Estado ou da Segurança Social, ainda que elas façam parte de um contrato que se prolongou por décadas e que foi rasgado unilateralmente pelo mais forte...