Na noite eleitoral e tomando as dores coletivas, repórteres e comentadores encheram os espaços televisivos sublinhando a elevada abstenção e o seu aumento em relação às “europeias” de 2014.
E finou-se o serão sem que se explicasse a lógica da coisa: o “recenseamento” de cerca de 1,2 milhões de emigrantes – a juntar aos 245 mil de há cinco anos – que ligam tanto a eleições como às probabilidades da existência de água em Marte. E a consequência, claro, foi chocante: de 1 milhão e 441 mil inscritos votaram menos de 14 mil (!), o equivalente a 0,96% por cento!
Foi essa assustadora taxa de abstenção, superior a 99%, que somada à verificada em Portugal redundou numa média global de 69,27%, bem acima dos 66,16% de 2014, pese ter havido agora mais 31 mil votantes – e não menos, como levianamente se proclamou.
Pior: retirando da análise os resultados do estrangeiro, regista-se que votaram no domingo, em Portugal, 3,3 milhões de eleitores, o correspondente a uma abstenção de 64,68%, quando há cinco anos essa percentagem foi de 65,34 – maior, portanto.
Que o número de portugueses que se absteve é trágico, é. Que os motivos que os levaram a isso são perturbadores, são. Mas martelar a verdade é que não vale.
Antena paranoica, Correio da Manhã, 1jun19
Votaram mais: não vale fazer batota
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