Alexandre Pais

Um icebergue carregado de tontinhos

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Teria de ser Pedro Neves de Sousa, repórter exemplar, a esbarrar na criatura: aquele jovem perturbado que disse preferir ter estado nas Torres Gémeas em setembro de 2001 do que assistir à derrota europeia do Sporting. O problema é que esse tolo é a ponta de um icebergue carregado de tontinhos. Infelizmente, conhecemos de outros sectores da sociedade a sua aterradora capacidade de se multiplicarem – um susto.

No sábado, perante a clara supremacia leonina frente ao V. Guimarães, essa rapaziada voltou a mergulhar nas profundezas. Mas virá à superfície não tarda, pois os milagres não acontecem sempre. A necessidade de sanear financeiramente o clube de Alvalade, com uma gestão apertada e a cedência dos melhores jogadores, deixou a Rúben Amorim um único caminho: olhar para quem ficou, ‘pescar’ na Academia e utilizar o seu talento na reconstrução da equipa. Não para discutir o campeonato, antes para o poder fazer amanhã – se, entretanto, não se tornar imperioso acudir a outras prioridades, vendendo mais ativos e recomeçando tudo.

Claro que a direção de Varandas não está isenta de erros. Quando há pouco dinheiro, não só é preciso realizar capital, despachando, por exemplo, Matheus Nunes dias depois de se ter perdido Palhinha, como se cai na armadilha de contratar ‘reforços’ fisicamente de vidro, como St. Juste, que custou quase 10 milhões de euros para ficar no banco ou de baixa.

Esse foi o ponto a que chegou o Sporting e vá lá, vá lá: outra direção poderia optar por continuar a pedir emprestado e a aumentar a dívida para perseguir a utopia do título nas presentes circunstâncias. Daí que exigir a demissão dos atuais dirigentes, sem ter a mínima noção do que é gerir o orçamento lá de casa – quanto mais o de uma sociedade desportiva do nível do Sporting – coloca os promotores ao nível do troglodita que foi buscar as Torres Gémeas para o seu triste momento de ‘glória’ televisiva.

Fui um daqueles ‘profetas’ que não acreditaram no sucesso de Roger Schmidt no Benfica. Ainda não ganhou nada, é certo, mas tenho andado a pensar como poderei dar uma volta ao texto para fazer menos figura de parvo.

Cristiano Ronaldo recusa entrar em campo, é posto a treinar com os juniores, paga uma multa, fala com o treinador, passa a ser titular e nunca mais é sequer substituído. E no jogo de ontem – 18 dias após o ‘crime’ – foi até capitão do MU. Se “o seu ego está fora de controlo”, como alguns ‘sábios’ dizem, imagine-se o de Ten Hag!

Uma palavra para Vasco Fernandes, o capitão que qualquer equipa gostaria de ter. Depois da lucidez e do ‘fair play’ revelados no final do Sporting-Casa Pia, vimo-lo a incentivar os companheiros antes da partida contra o Rio Ave, apoiando de forma sublime o seu treinador, Filipe Martins, cujo pai havia partido. É o patamar de cima do futebol português, que não está, desgraçadamente, ao alcance de todos.

Parágrafo final para Sérgio Conceição, que só falha aos que o admiram quando lhe sobem os calores e perde a cabeça. O gesto, de uma generosidade imensa, que teve com os desafortunados jogadores do Villa Athletic – revelado não por ele mas por Edinho – define o homem. Chapeau!

Outra vez segunda-feira, Record, 7nov22

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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