Alexandre Pais

Um convite à emigração que foi apenas declaração de bom senso

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Há 40 e tal anos, a palavra dita em público e captada pela rádio logo desaparecia. Tudo se garantia termos dito e tudo jurávamos jamais ter proferido. Havia na Emissora Nacional – para a PIDE lá poder ir cheirar – o chamado “gravador contínuo”, que registava as emissões integrais das poucas estações existentes, o que significava que ou os jornalistas da escrita apanhavam uma frase comprometedora e a publicavam, ou se criava o “mito urbano” que Passos Coelho descobriu ao pôr-do-sol.
Com a negação do famigerado “convite à emigração”, por parte do primeiro-ministro, as televisões exultaram: hoje, nada nos escapa! E toca de reproduzir a catilinária, de 2011, do chefe do Governo, que não sendo apenas dirigida “aos professores”, como ele diz, mas “sobretudo aos professores”, como na verdade afirmou, roçava, afinal, um bom senso elementar. Quem insiste em seguir uma profissão em que o País é excedentário, terá de procurar onde possa exercê-la. Desse “crime”, absolva-se o homem.
Antena paranoica, Correio da Manhã, 13jUN15

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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