Luís Filipe Vieira não resiste na presidência do Benfica apenas pela sua vocação para líder, mas também pelo deserto que a capacidade de comando que tem evidenciado ao longo dos anos criou à sua volta. Tão pouco o vemos rodeado por pequenos ou potenciais líderes, já que a sua equipa é constituída por seguidores – naturais ou que se foram acomodando à subalternidade. E não se vê sequer, num horizonte próximo, uma cabecinha espetada a aguardar o desenrolar dos acontecimentos.
Se olharmos para o FC Porto, o panorama não é muito diverso, embora a longa permanência no poder de Pinto da Costa tenha criado uma expectativa nova, precisamente aquela que resulta da certeza de que falta ao líder o dom da eternidade. Se lhe juntarmos o consenso trazido pelos anos, e especialmente pelas vitórias, podemos entrever – e essa é a grande diferença para o cenário da Luz – um ambiente que permite vislumbrar um ou outro putativo candidato com carisma e confirmada competência.
Não tem o Sporting beneficiado nos últimos anos do contributo de um timoneiro ao nível de Vieira ou Pinto da Costa. E curiosamente é no reino do leão que não faltam líderes ou candidatos a sê-lo, muita gente com qualidade ou com ambições, e alguma, até, qualificada e disposta a servir. O problema – e disso é prova, mais uma, a entrevista que o ex-“vice” Carlos Barbosa dá amanhã a Record – reside na falta de tranquilidade para trabalhar resultante dos débeis resultados do futebol, do excesso de gente capaz, ou que se julga capaz, para vir a ser presidente, do consequente défice de seguidores disponíveis para formar uma equipa e seguir um líder. E, finalmente, da não afirmação de uma liderança.
Ora, nos tempos que correm, para mandar no Sporting – e não se podendo atirar a matar, nem descobrir poços de petróleo – resta esfregar o nariz e fazer um pedido: que as bolas entrem na baliza dos adversários, que a equipa ganhe sempre ou quase, que o Sporting volte a ser Sporting e que então o dinheiro apareça. E essa é, da forma como estão as coisas, uma tarefa para Deus.
Canto direto, publicado na edição impressa de Record de 14 julho 2012