Alexandre Pais

Contratação de Rúben Amorim foi um passo na direção do abismo

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O Sporting terá gasto perto de 20 milhões de euros a contratar e a despedir seis-treinadores-seis, em menos de dois anos. Metade dessa verba – “uma loucura”, segundo Luís Figo, antes tão indiferente ao vento que sopra – foi direitinha ao Sp. Braga, para juntar aos 31 milhões do Barça por Trincão. Isso significa que, à “aposta de risco” de Frederico Varandas há a acrescentar esse valioso contributo para a valorização de um rival direto que, na próxima época, voltará a candidatar-se a ficar à frente do Sporting.
Nada que pareça preocupar o líder leonino, que foi à concorrência buscar um técnico – com potencial, é certo, mas por enquanto um epifenómeno – com o objetivo de dar um salto para a frente quando em frente está o abismo. Repete, aliás, a estratégia que levara à contratação de Silas: salvar a face, se tudo corresse bem. Como não correu, o dr. Varandas tirou da cartola um novo coelho que confessou, nas suas barbas, nunca ter pensado que alguém desse 10 milhões por ele… Por vezes, a frontalidade mata.
Existe agora uma diferença: se Amorim falhar, não depois mas já neste horrível final de temporada, não haverá mais rede que suporte a loucura à solta que varre Alvalade. E aos dois mil que ontem reclamaram a demissão da gestão do manicómio, muitos outros se juntarão.
Como se não bastasse uma estreia em casa contra o último classificado, Rúben Amorim viu o Aves ficar, bem cedo, reduzido a nove jogadores. Estrelinha ele tem!
O Benfica empatou na Luz com o Moreirense e repetiu o apagão em Setúbal – grande Velázquez! Os encarnados apenas marcam de penálti, à primeira ou na recarga, continuam a sofrer golos e só não passaram de sete pontos de avanço para três de atraso no campeonato porque o astuto Carvalhal foi ao Dragão fazer de Sérgio Conceição… Bruno Lage. Apesar do evidente mau momento que os benfiquistas atravessam, da falta de intensidade do seu jogo e dos insucessos que se acumulam, a negação é a palavra de ordem. Vieira tem um belo imbróglio nas mãos.
Nesta altura, o maior trunfo de Bruno Lage é, curiosamente, o FC Porto. Se o Benfica vive uma crise, os portistas não lhe ficam atrás. Facto: o nível do campeonato português vem por aí abaixo aos trambolhões.
Já agora: anular um golo por um fora de jogo de três centímetros e não marcar um penálti tão claro como o que resultaria do derrube de Marega é de deixar uma pessoa calma à beira da apoplexia. Como não se gostava da incompetência de alguns árbitros, deu-se-lhes a tecnologia para que refinassem a sua capacidade de abusarem da nossa paciência.
Na hora do esquecimento, aqui fica um aceno de simpatia e admiração por Jorge Silas e pela extrema dignidade com que encarou os sucessivos enxovalhos que antecederam a sua partida de Alvalade. Tratado como lixo, defendeu o clube que serviu, com profissionalismo e dedicação, deu a notícia da própria saída e saudou a chegada do sucessor, numa passagem de testemunho serena e carregada de “fair play”. Chapeau!
O último parágrafo vai hoje para o maior clube do Mundo, que acaba de completar 118 anos. Belenense desde o berço, tornei-me adepto do Real Madrid na segunda metade da década de 50, após a conquista das cinco primeiras Taças dos Campeões Europeus, a gesta heroica de Di Stefano, Puskas, Kopa, Gento e companhia. E foi uma paixão que me ficou para a vida. Hala Madrid!
Outra vez segunda-feira, Record, 9mar20

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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