Com uma produção modesta e a participação especial de um presidente com escassa capacidade de comunicação – ai aquelas mãos esvoaçantes! – a RTP assinalou os seus 60 anos transmitindo um clássico: o Festival da Canção. Estando já tudo dito sobre a efeméride, dedico estas linhas aos cabouqueiros da estação, hoje quase só recordados, ao acaso, na RTP Memória ou, a sério, no Inesquecível do enorme e eterno Júlio Isidro.
Recordo a minha irritação de anos, antes da chegada dos canais privados, com o peito inchado de alguns pavões da estação oficial, que não perdiam uma oportunidade – e tinham muitas – para se considerarem pioneiros da televisão em Portugal, como se isso constituísse um posto ou um galardão que os tornasse demasiado importantes para o País.
Mas havia certa verdade nessa pretensão de casta, e o tempo, mestre das coisas, ensinou-me a conter a rejeição primária da vaidade dos aventureiros da Alameda das Linhas de Torres, conforme os fui vendo substituídos por inúmeros boys, arrivistas do disparate e profissionais da ignorância, gente sem escola, sem méritos e sem vergonha. Poucos resistiram.
Assim, olho daqui para o final da década de 50, curvo-me perante os que partiram e saúdo os vivos: grande foi o trabalho. Chapeau!
Parece que foi ontem, Sábado, 16MAR17
RTP: seis décadas de aventura e pioneirismo
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