Confiando na certeza da morte, as hienas afiavam os dentes para se atirarem ao cadáver. Sentindo-se pouco valorizado na Juventus – que em três épocas não foi capaz de encontrar um treinador e uma equipa que potenciassem a sua estrela maior – Cristiano partiu para a viagem sempre anunciada e aterrou em Manchester.
Essa realidade foi transformada, com a tenacidade da mentira mil vezes repetida, numa suposta queda de rendimento de CR7 – que, como alguns diziam, já não driblava, perdera velocidade, marcava menos golos. Depois, também ganhava muito, a Juve estava nas ‘lonas’ e ele não aportava os êxitos desportivos suficientes para amortizarem o salário. Allegri, cedo o condicionou, deixando-o no banco e ‘prometendo-lhe’ mais uma temporada perdida. Repetidamente aqui manifestei o desejo de ver Cristiano fora de Itália, de um campeonato que o limitava, de um clube que não o acarinhava e de uma gestão incapaz de formar um grupo de trabalho destinado a feitos maiores. Finalmente, o dia chegou.
Mas a onda de entusiasmo que o regresso ao United gerou não passava, para os fiscais de marquises e para a invejazinha social que lhes preenche as pobres vidas, de uma operação de cosmética destinada a disponibilizar ao moribundo a garrafa de oxigénio que adocicasse o seu fim.
Perante a expetativa da estreia, as apostas das criaturas assentavam numa exibição morna, dececionante. E não começou por lhes correr mal, com Cristiano solitário no meio da defesa do Newcastle, sem espaço e aparentemente longe da sua melhor condição. Acontece que CR7 é um daqueles protagonistas talhados para os grandes momentos e a quem os deuses da fortuna nunca falham. Com Old Trafford repleto e a emoção ao rubro, bastou-lhe acreditar que o guarda-redes adversário não seguraria uma bola para estar no sítio certo e abrir o marcador.
Com o inesperado 1-0, ainda salpicou veneno nas redes sociais: bah… limitou-se a empurrar a bola! Sol de pouca dura. A jogada do segundo golo revelou como está intacta para a alta competição a sua capacidade física e como pode correr bem a plena adaptação de Cristiano Ronaldo a um ‘9’ puro. E a torrente impressionante que se seguiu, com elogios vindos de figuras míticas do futebol e de todos os cantos do Mundo, abafou os detratores, ficando como testemunho do relançamento de uma carreira que parecia destinada a ir terminando devagarinho. E recordo Jorge Coelho para dizer: quem se mete com CR7, leva!
E como tratei hoje de inveja social, dedico este parágrafo a outro ‘perseguido’ pela mesquinhez dos homens pequeninos: José Mourinho. Ele devolveu também o entusiasmo aos adeptos da AS Roma e está a conseguir um início de época à altura dos seus pergaminhos. Ontem, no milésimo (!) jogo como treinador, chegou ao triunfo mesmo sobre a hora, o que tornou certamente insuportável o desespero dos fiscais de marquises!
Sem Federer e com Nadal diminuído, Djokovic foi acumulando êxitos, ultimamente recorrendo a uma estratégia irritante: ‘fazer-se de morto’ nos primeiros ‘sets’ para que os adversários baixem a guarda. Foi o que aconteceu nos derradeiros quatro encontros do US Open, antes da final. Ontem, repetiu a graça com Medvedev e saiu-se mal: sofreu a derrota mais amarga da sua história. Há um novo ‘rei’ no ténis mundial.
Até ao fim do meu tempo, não esquecerei aquele telefone que tocou num dia de chuva e o alento que isso constituiu para mim. Adeus, ‘furacão ruivo’. Obrigado.
Antena paranoica, Record, 13set21