Alexandre Pais

Que a Rita não responda nem pague a ‘multa’!

Q

De todos os momentos felizes da vida, tive dois que quero destacar aqui, abusando da paciência dos leitores, é verdade. O primeiro decorreu há meio século – ai, ai… – no dia da minha entrada para a redação do ‘Diário de Lisboa’, o início do percurso jornalístico. O outro aconteceu há nove anos, quando deixei a direção deste jornal e passei a cumprir uma regra que me impus: nunca mais aturar jornalistas, uma felicidade para mim e para as possíveis vítimas. Que não restem, portanto, dúvidas sobre o meu implacável espírito anticorporativo.

Sublinho isto a propósito do inqualificável procedimento ‘disciplinar’ (?) com que os iluminados do Conselho de Disciplina da FPF pretendiam – entretanto, foram metendo a viola no saco… – ‘punir’ uma pergunta fora da caixa que a jornalista Rita Latas, da SportTV, fez a Rúben Amorim, aproveitando, e bem, a oportunidade da ‘flash interview’.

Há uma boa dúzia de anos, eu próprio fui alvo de uma tentativa de intimidação semelhante por parte de um órgão ‘disciplinar’ de uma conhecida instituição – e na qualidade de diretor do jornal! – com uma jurista a pretender ‘inquirir-me’, marcando-me até data e hora para o evento nas suas instalações… Claro que não só não compareci, como continuei a não dar importância ao ‘inquérito’ quando pretenderam que respondesse por escrito, após o envio de umas perguntazecas através de um e-mail que mantinha o tom ameaçador da ‘convocatória’ inicial: teria de replicar “no prazo de cinco dias”, boa piada! Escusaria de acrescentar que ainda hoje estão à espera das respostas…

Na sequência do falhado processo, escrevi, então, um texto em que expliquei – como já sucedeu, neste caso, com tantos comentadores, honra lhes seja – que como jornalista só me sentia condicionado pela Constituição, pela Lei de Imprensa, pelo Código Deontológico e pelos interesses dos leitores do ‘Record’. E espero agora que também Rita Latas não aceite sequer a ‘abertura’ do ‘procedimento’, que, se citada, não compareça, e que, se ‘multada’, não pague um cêntimo. O douto CD da FPF não tem poder, nem dispõe de meios legais para ‘obrigar’ jornalistas a não perguntarem o que entenderem. Foi, aliás, o que Rúben Amorim – sempre no patamar de cima no que à inteligência diz respeito – logo percebeu, respondendo com elegância e pragmatismo. Enquanto não houver maneira de forçar um entrevistado a dizer o que ele não quer, e nunca haverá, as perguntas ‘inconvenientes’ não existem – façam lá, sobre o joelho, com arrogância, descaramento e falta de noção do ridículo, os ‘regulamentos’ que lhes apeteça!

Após a série interminável do ‘ninguém o quer’ e não havendo mais barro para atirar à parede, eis que o Fenerbahçe foi apontado como o destino de Cristiano Ronaldo, caso Jorge Jesus tivesse conseguido qualificar os turcos para a Champions. A burrice é infinita.

Jan Vertonghen esperava acabar a carreira em Portugal, após os 46 jogos disputados pelo Benfica na época passada, mas Roger Schmidt quis que ele regressasse a casa. Foi pena porque era um daqueles jogadores cuja presença nos prestigiava. Capitão da seleção belga, 139 vezes internacional – 16 das quais desde 2021 – vê-lo-emos em breve no Mundial a fazer na equipa n.º 2 do ranking FIFA aquilo que, pelos vistos, não era capaz na Luz. Mistérios do futebol.

Quando ouço adeptos benfiquistas a assobiar a saída de campo do lesionado Bruno Wilson, neto de uma referência do Benfica, fiquei triste. Mas perante a monumental vaia com que foi depois despedida a equipa do Vizela – derrotada pelo FC Porto por um golo de Marcano, aos 90 minutos, e a sucumbir na Luz por um penálti discutível aos 90’+8 – bem como o seu competente treinador, naturalmente inconformados com a repetida falta de sorte, rendo-me à evidência: estamos muito longe de ter comportamentos dignos de um país civilizado.

E já que me referi ao penálti do Benfica-Vizela, os leitores mais distraídos que vejam uma jogada em tudo semelhante, que aconteceu ao minuto 7 do Sp. Braga-V. Guimarães e que não originou a marcação do castigo máximo. E pergunta-se: investe-se uma fortuna no VAR para não haver critérios e deixar as decisões à vontade do freguês? Quanto ao cartão amarelo a Gonçalo Ramos, que se limitou a cair após o corpo do adversário lhe tombar em cima, aí não é uma questão de critério mas de chocante incompetência. E dessa, jamais nos livraremos.

Último parágrafo para o final de carreira de Serena Williams, a maior campeã de ténis de todos os tempos. Ganhou o primeiro dos seus 39 (!) títulos do Grand Slam em 1998 – de pares mistos, em Wimbledon, aos 16 anos – e só se despediu há dias, aos 40 e de pé, porque a idade não perdoa. Chapeau!

Outra vez segunda-feira, Record, 5set22

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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