Alexandre Pais

Repórteres da madrugada

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Vejo televisão no sofá desde que a RTP começou a emitir – ai, ai… – mas isso dá-me apenas um conhecimento relativo: a minha perspetiva é sempre a do observador. Daí identificar, ano após ano, a existência de opções editoriais e de programação que, como espectador, não entendo.

É verdade ao cabo de décadas de autodidatismo e formação temos em Portugal um punhado de conhecedores profundos do fenómeno televisivo, cujas orientações se baseiam muito no saber da experiência: quem pensar que pode dar asas a uma suposta criatividade e decidir só porque gosta de amarelo, está feito.

O lançamento da CNN Portugal aumentou imenso aquilo que para mim constitui uma praga: a colocação de repórteres à frente de edifícios fechados, ao frio da madrugada – e sem que tenham acesso a mais qualquer informação para além da que já foi dada pelo pivô ou na peça gravada na redação e que antecede o ‘direto’.

Sei que estou errado. Se o jornalista é enviado à uma, duas ou sete da matina para a porta da morgue ou da residência oficial do PM é porque o público consome a notícia dessa forma e não se contenta com menos. Sim, o defeito é meu, mas tive sorte: nadava em círculo na água gelada quando o futebol me salvou a vida.

Antena paranoica, Correio da Manhã, 12fev22

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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