Quando na sequência da saída de Cristiano Ronaldo do Real Madrid, outra lenda merengue, Zinédine Zidane, anunciou igualmente a retirada – após a terceira conquista consecutiva da Liga dos Campeões – a conjuntura parecia indicá-lo como sucessor de Allegri na Juventus, emblema com o qual o francês fora duas vezes considerado pela FIFA o melhor jogador do Mundo. Chegou mesmo a ser-lhe indicada, em julho de 2018, uma função de transição na estrutura do clube de Turim: assessor do diretor desportivo, Fabio Paratici.
O sucesso de Zidane no Real assentara, naturalmente, na sua larga experiência como jogador, mas também no importante tirocínio que fizera ao leme do Castilla e, antes, na própria casa-mãe, como adjunto de Ancelotti – que havia sido seu treinador… na Juventus.
Andrea Pirlo tinha tudo para seguir as pisadas de Zizou. Ou quase tudo. Executante genial, carregado de títulos e de distinções individuais, faltou-lhe, como futebolista, ter atuado noutras ligas europeias além da italiana. Esteve apenas no New York City, enquanto Zidane soma a experiência do calcio à do campeonato francês, no Bordéus, e à do espanhol, no Real Madrid, o que não é coisa pouca.
Mas uma aposta arriscada dos donos da Juventus – como de alto risco são sempre as decisões visionárias – retirou a Pirlo o “estágio” de que ele mais precisava: nove dias (!) antes de o lançarem às feras na primeira equipa, tinham-no contratado para os sub-23… E o resultado dificilmente seria mais “trágico”. Cumprido um terço das jornadas da Serie A, a Juve, embora com menos um jogo, está já a dez pontos do comandante, o Milan, e a nove do imediato, o Inter. Pior, o eneacampeão italiano exibe um rendimento baixíssimo, o seu futebol não tem identidade e os jogadores vagueiam pelo campo como fantasmas. Quando Cristiano está em dia sim, a mediocridade vai sendo disfarçada, quando não está a desgraça é completa, como sucedeu na derradeira ronda, com a derrota em casa (0-3!) com o então 16.º classificado, a Fiorentina.
Perante este panorama desolador e o décimo scudetto praticamente perdido, os acionistas tardam em reconhecer o erro de casting – já se diz até em Itália que quem dirige as operações no terreno são os adjuntos de Pirlo… – pelo que a hipótese de falhar ainda na Champions e cair na zona não europeia do campeonato é real. Como português, sinto-me vingado: não é só entre nós que os senhores do dinheiro tomam opções absurdas. Afinal, ser profissional dá imenso trabalho, mas ser amador está ao alcance de qualquer um.
O último parágrafo vai para Luisão, pela cena macaca que interpretou após o falhanço da Supertaça. Por muito que se entenda a sua frustração, há dois fatores que não teve na devida conta. É que nem tem estatuto para falar assim – não é ele o líder e os líderes nunca gostam de ser “substituídos” – nem foram os jogadores, alvos da sua cólera para a galeria, que andaram por aí a dizer que o Benfica ia arrasar e jogar o triplo…
Outra vez segunda-feira, Record, 28dez20