A publicação dos dados da APCT de 2010, esta semana, revelou dados que mostram que o Negócios foi prejudicado ao longo de pelo menos um ano. Esse estranho facto precipitou a publicação de dois textos, um no Negócios, outro no Diário Económico. De um lado estão factos de uma auditoria, do outro lado estão acusações de carácter. O carácter não se descreve, mostra-se. Por isso, vamos aos factos.
EDIÇÃO IMPRESSA: NEGÓCIOS LÍDER EM 2009
No decurso das suas actividades normais, a APCT decidiu fazer uma auditoria de rotina à circulação de 2009 do Jornal de Negócios e do Diário Económico. Essa auditoria foi realizada por um auditor externo, a BDO. Resultado das auditorias: o Jornal de Negócios comprovou todos os seus dados, o Diário Económico não.
Este resultado da auditoria só foi conhecido esta semana e surpreendeu tudo e todos – incluindo o Negócios. 5.112 exemplares que o Diário Económico tinha declarado como circulação paga para todos os dias do ano de 2009 não tinham prova documental. O diário foi obrigado a reclassificar esses dados como ofertas. Mais de um terço da circulação paga do Diário Económico afinal não o era.
Os dados oficiais são os seguintes:
Circulação paga 2009 | ||||
Antes da auditoria | Depois da auditoria | Variação | ||
Diário Económico | 14.623 | 9.511 | -5.112 | -35% |
Jornal de Negócios | 9.693 | 9.693 | 0 | 0% |
Fonte: APCT |
Sobre a auditoria ao Diário Económico, o auditor tornou públicas três reservas:
“- Nas vendas em bloco não está disponível informação sobre o ‘procedimento definido, estável e verificável utilizado e que garanta a entrega aos destinatários finais’ dos exemplares objecto de venda em bloco (conforme Regulamento da APCT).
– Vendas de Dezembro 2010 são previsionais.
– Não foram disponibilizados os registos contabilísticos relacionados com as contas correntes das entidades compradoras das vendas em bloco, que permitiriam confirmar o seu efectivo preço de venda.”
Todos estas dados, para os quais não encontro paralelo na história da APCT, foram tornados públicos esta semana. E provocaram a nossa perplexidade. Afinal, o Negócios tinha sido líder em 2009 também na edição impressa! Esperámos que o Diário Económico se explicasse, e perguntámos o que tinha sucedido. A explicação foi dada como sendo questão “administrativa” insignificante e, para nossa surpresa acrescida, o Diário Económico vangloriou-se do crescimento face ao ano em que tinha sido obrigado a “cortar” um terço da sua circulação paga.
A situação é grave. Um auditado chumbou numa auditoria, retirando a liderança a quem de direito a tinha conquistado. E isso tem implicações materiais, inclusive afectando a decisão de investidores publicitários. Além disso, os 5.112 exemplares circularam, o que faz aumentar a audiência, o que também tem o impacto nas mesmas decisões.
O Negócios repudiou este comportamento, que considerou de concorrência desleal.
EDIÇÃO ONLINE: NEGÓCIOS LÍDER EM TODOS OS CRITÉRIOS
Há uma percepção antiga no mercado de que o Jornal de Negócios é líder na Internet e o Diário Económico é líder na edição impressa. Essa percepção baseia-se em dados correctos e corresponde aos posicionamentos históricos das duas publicações. Mas não se perpetuou. Como expliquei, o Negócios foi líder na edição impressa em 2009 e o Diário Económico reclama que foi líder em 2010 na Internet. Foi?
Vamos de novo aos factos. O Negócios online sempre foi auditado, o Diário Económico começou a sê-lo só em Maio do ano passado. Só há pois dados comparáveis desde então. E há dois critérios auditados pela Marktest para as audiências online: páginas vistas e número de visitas.
O Negócios sempre foi líder em número de páginas vistas. O Económico foi, durante sete meses, líder em visitas. Em Dezembro já não o era de novo. Nem em Janeiro. Eis os dados auditados pela Marktest:
Visitas | Páginas vistas | |||
Negócios | DE | Negócios | DE | |
Jan-11 | 4.322.275 | 3.769.511 | 15.512.581 | 11.688.458 |
Dez-10 | 3.656.958 | 3.317.768 | 14.624.146 | 10.067.616 |
Nov-10 | 3.199.587 | 3.776.123 | 23.439.691 | 11.701.777 |
Out-10 | 2.975.405 | 3.980.568 | 21.942.832 | 12.700.223 |
Set-10 | 2.618.756 | 3.221.902 | 19.850.976 | 10.794.376 |
Ago-10 | 2.299.701 | 2.747.684 | 16.242.805 | 9.731.626 |
Jul-10 | 2.999.400 | 3.151.156 | 20.578.911 | 12.409.895 |
Jun-10 | 3.038.712 | 2.940.359 | 21.019.854 | 11.400.221 |
Mai-10 | 3.400.244 | 3.776.264 | 25.858.282 | 14.309.115 |
O Negócios é hoje líder online em visitas e em páginas vistas.
A INVENÇÃO DE OUTRA AUDITORIA
Hoje, o Diário Económico escreve que o Negócios online foi obrigado a mudar páginas vistas “não resistindo a uma auditoria técnica da Marktest” em Dezembro de 2010. É falso. Não houve nenhuma auditoria técnica da Marktest em Dezembro de 2010 ao Negócios, como a própria Marktest nos confirmou esta manhã. O que é curioso é que precisamente nesse mês o Jornal de Negócios não só manteve a liderança em páginas vistas como voltou a ser líder também em número de visitas.
INOVAÇÃO EDITORIAL
No Negócios, o produto é a informação, as várias edições são apenas canais de distribuição. A paixão é o jornalismo, a liderança é apenas uma consequência bem-disposta. Temos hoje uma edição de WEB TV com milhares de visualizações diárias, reformulámos o conceito das conferências em Portugal com novos formatos, estamos desde a primeira hora no iPad e no mobile, temos dezenas de milhares de seguidores nas redes sociais.
Mas a tecnologia serve apenas a informação. E é a inovação editorial que serve os nossos propósitos. Com os resultados que se estão à vista. E que estão todos, e desde sempre, auditados.
Isto não é, embora pareça, uma guerra entre jornais ou entre os seus directores. Mas o Negócios é tão exigente consigo mesmo como é com os outros, incluindo com a concorrência. No fim desta triste semana, há um facto, um único facto, relevante: o Diário Económico chumbou numa auditoria independente, 35% da sua circulação paga não o era.
Estes são os factos. Sobre o carácter não escrevo aqui nem uma linha. Escrevo-as há anos, todos os dias.
É preciso saber perder, é preciso saber ganhar.
Vae victis.
Com os melhores cumprimentos,
Pedro Santos Guerreiro
Director do Jornal de Negócios