Preparava-se António Costa para recolher os dividendos políticos dos últimos resultados da gestão Centeno e eis que PSD e CDS lhe trocam as voltas, aumentando o ruído em torno da magna questão das mensagens trocadas entre o ministro das Finanças e o inefável dr. Domingues. No pelotão de ataque, comandado pelo aguerrido deputado Leitão Amaro, cedo se fez ouvir a voz grossa do ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Paulo Núncio. O bruaá foi tão intenso que Governo e primeiro-ministro andaram aos papéis.
Mas a política que vive destas habilidades abre a Caixa de Pandora de onde não param de saltar novos males. E não foi seguramente por acaso que logo surgiu o escândalo dos 10 mil milhões de euros que terão ido parar a offshores, entre 2011 e 2015, sem que o fisco apurasse se alguma parte lhe caberia – e que se calhar é até nenhuma. E quem atingiu em cheio esse tiro de resposta das hostes governamentais? Paulo Núncio, precisamente, que passou assim de caçador a caçado e anda por aí a assumir culpas próprias e de outros.
Por coisas destas é que o há muito desaparecido jornalista e escritor francês, Henri Béraud, nos legou o aviso: “Na política, é difícil distinguir os homens capazes dos homens capazes de tudo”.
Observador, Sábado, 9MAR17
Os capazes e os capazes de tudo na política
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