Os chacais foram apertando o cerco e multiplicando as críticas a Rui Vitória, que carregava as culpas do que o Benfica fazia ou deixava de fazer: era tão bestial na goleada ao Sp. Braga como besta na derrota em Portimão. É a sina de quem não vence sempre – e ninguém vence sempre – e bem pensava Sérgio Conceição, quando ao seu jeito, sem rodriguinhos, dizia há dias qualquer coisa como isto: “Gostam de mim, enquanto ganhar”. É um sábio!
Não adianta reclamar, o futebol é assim, uma máquina que tudo trucida ao arrepio da memória e ignorando a gratidão. Como não pertenço ao “circo da bola” – que só conjunturalmente integrei por dever profissional – aproveito a oportunidade para expressar a minha admiração por Rui Vitória, que nem sequer conheço. Porquê? Pelo que conseguiu no Benfica, claro, mas em particular pela postura de nobreza, elegância e superioridade intelectual que adotou como imagem de marca. Além de treinador que obteve títulos, Rui Vitória revelou-se um inimigo do acinte e da mesquinhez, confirmando o que sabíamos: é um homem a sério, a quem o futebol e a vida não faltarão com muitos momentos de realização e felicidade. Chapeau!
Agora, todas as expectativas se concentram no próximo treinador do Benfica, havendo sugestões para gostos diversos. Tantas, que até Luís Castro anda na berlinda. Com o devido respeito, não percebo que fantásticos resultados alcançou já o atual técnico do Vitória de Guimarães – que falhou até a soberana oportunidade que o FC Porto lhe deu – para ser contratado pelos encarnados. Faria melhor que Bruno Lage? É que vimos ontem um Benfica com fragilidades defensivas – ai, aquela jogada de Galeno aos 57 minutos! – dar a volta ao marcador graças à qualidade de Seferovic e ao talento de João Félix, que fizeram esquecer muita coisa, mas também a uma mudança de “andamento” na segunda parte, com cheiro a motivação vinda do banco. Se é para trazer José Mourinho, pois que venha, mas se não é, Vieira que acredite nos méritos e virtualidades do sangue novo.
Espero que se confirme o regresso de Pepe ao Dragão e o seu reencontro com Casillas – mais um galão que brilhará então no ombro do FC Porto europeu. Se acontecer, será a chave de ouro na reta final do percurso de um jogador extraordinário a quem o futebol português muito deve. Se não acontecer, será outro mau ato de gestão de carreira, depois do erro que foi o absurdo auto-exílio na Turquia.
E por falar de Casillas e Pepe: o Santiago Bernabéu continua a ser um espelho dramático da má época merengue. Ontem, apenas 53 mil espectadores acorreram ao estádio – que leva 81 mil – e ao intervalo, com o Real a perder e a rubricar mais uma exibição horrível, já eram quase tantas as cadeiras vazias como as dos resistentes. Entretanto, o Barcelona ficou a 10 pontos! Como é fácil destruir uma equipa, mesmo aquela que ganhou quatro das últimas cinco Ligas dos Campeões…
O derradeiro parágrafo é dedicado aos sete ou oito mil (!) adeptos que assistiram, na Reboleira, a um Estrela-Belenenses a contar para uma espécie de sexta divisão… Bravo! Curiosamente, aumentaram igualmente os apoiantes dos azuis do Jamor, que não resistem, apesar das discórdias, a aplaudir o onze da SAD, que está a fazer um campeonato magnífico e é um dos quintos classificados – com Fredy na melhor forma de sempre. De facto, nada como as vitórias para fazer amigos… que se manterão só enquanto se ganhar. É uma tristeza mas é a vida.
Outra vez segunda-feira, Record, 7jan19
Os adeptos só gostam de vencedores
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