Alexandre Pais

Faroeste no Montijo não foi culpa da PSP

F

Através da comunicação social, a Políca Nacional espanhola pedia, há dias, a colaboração dos cidadãos para a detenção de um marginal que agrediu um agente, num transporte público, em Saragoça. Num vídeo, facultado às autoridades por um passageiro do autocarro, via-se o rosto do cavernícola, que atacou a vítima a murro e a pontapé, após lhe ter sido solicitado que pusesse a máscara.

Este comportamento, de proteção àqueles que têm o dever de zelar pela ordem pública, contrasta, como sabemos, com a quase indiferença com que em Portugal se encara o trabalho das polícias. Ainda temos bem presente a brutal agressão – e tentativa de afogamento (!) – de um militar da GNR, em Albufeira, por parte de um bando de delinquentes ingleses, que o MP libertou sem sequer os apresentar a um juiz.

Não se tratou, infelizmente, de um ato isolado, pois há uma semana vivemos mais um momento inacreditável de insanidade e desrespeito. Todos vimos as imagens em que elementos dos bancos do Olímpico do Montijo e do V. Setúbal B se envolviam à pancada, com várias pessoas por terra, em risco iminente de sofrer graves lesões na cabeça. Perante a extensão da desordem e a possibilidade da batalha campal se estender à bancada e se tornar incontrolável, três agentes da PSP efetuaram disparos para o ar, o que levou à debandada dos contendores e à acalmia da baderna. Os polícias não decidiram assim porque lhes apeteceu, não ultrapassaram as suas competências, não feriram ninguém – atuaram em nome da comunidade, com responsabilidade e sangue frio, em conformidade com o que sentiram ser, e era, a sua obrigação. Muito bem!

Lamentáveis, sim, as tentativas de branqueamento da bagunça, que se seguiram, tanto por parte de alguns intervenientes como daquela comunicação social que não se distancia para noticiar com equidade e vai atrás do ‘protesto’ e da ‘revolta’ dos que são, na realidade, os prevaricadores. Num canal de TV, por exemplo, um ‘porta-voz’ dos baderneiros dizia que o caso não era com a PSP e que os agentes não tinham de se ir lá meter…

E logo o circo foi montado em torno da resposta policial, com a polémica a centrar-se nos tiros, no perigo que constituíram e no susto que provocaram aos meninos, que estavam apenas nervosos, coitadinhos. Um inquérito, ou vários, foram de imediato reclamados: há que castigar os malvados que estragaram um pacato jogo de futebol!

Nem todos, é certo, embarcaram no logro. Paulo Martins, treinador do V. Setúbal B, não podia mesmo ter sido mais claro: “Se a PSP não desse aqueles tiros, a confusão teria sido muito pior”. Daí que se aguardem com moderada expetativa – sabe-se o que a casa gasta… – as decisões dos organismos aos quais cabe a apreciação e punição dos atos de violência nos estádios. Mas receia-se que entre recursos, prazos e conversas de chacha, os energúmenos que levaram o faroeste ao Montijo recebam umas ‘repreensões’, quando o que mereciam era serem banidos dos recintos desportivos. Afinal, somos o país que somos.

Um último parágrafo para os sportinguistas que no sábado, em Alvalade, fizeram com que o bom senso e a decência derrotassem a estupidez e a barbárie. Chapeau!

Outra vez segunda-feira, 25out21

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

Arquivo

Twitter

Etiquetas