Aos 8 anos, frequentou uma escola primária nos Estados Unidos, aos 12, em Londres, foi sozinho ver a Câmara dos Comuns e assistir aos debates. Começou dessa forma a criação do mundo político de Jorge Sampaio, cuja carreira dispensa palavras. O que quero referir é a semelhança do seu percurso com o de António Costa, como ele presidente da autarquia alfacinha e que parecia ter – de acordo com as sondagens – boas possibilidades de enfrentar Marcelo Rebelo de Sousa nas presidenciais de 2016. Afinal, como Sampaio e também aos 52 anos, Costa quer ser líder do PS e candidato a primeiro-ministro.
Em entrevista à Tomorrow, antes das legislativas de 1991, Sampaio mostrava-se confiante – “perderam-se oportunidades importantes e decisivas, temos de restaurar o aparelho produtivo”, dizia – na disputa com o PSD de Cavaco Silva, que venceria o PS por 50,6% contra 29,1% dos votos. Perdia assim a oportunidade de liderar o Governo o homem que quatro anos depois derrotaria, por 440 mil votos, o mesmo Cavaco – saltando da presidência de Lisboa para a da República. Terá António Costa êxito no caminho que escolheu?
Do MES a Belém com passagem por Lisboa
Apoiante de Humberto Delgado, colaborador da Seara Nova, candidato a deputado pela CDE, fundador do MES e do GIS, secretário de Estado, deputado e líder parlamentar, secretário-geral do PS, presidente da CML, Presidente da República, enviado-especial e alto representante da ONU: eis alguns pontos altos da vida política de Jorge Sampaio, 74 anos, lisboeta e advogado.
Parece que foi ontem, Sábado, 11MAI14
E como irá ficar Lisboa?
Nasci em Lisboa e por cá passei a vida. E pelo menos desde que um bom autarca, o eng. Santos e Castro, mandou construir, em Alcântara e no início da década de 70, a ponte provisória sobre a Avenida da Índia – que lá continua, firme – que me interesso pela capital e pela qualidade que nos oferece.
Nesta corrida à liderança do PS, o que realmente me afecta é o regresso iminente de uma dúvida atroz: o que será da cidade quando António Costa se afastar? Porque feliz ou infelizmente não precisamos de nos debater com teorias, o que já aconteceu revela o que poderá voltar a acontecer.
Em 1995, Lisboa tinha um grande presidente, quando Jorge Sampaio renunciou ao cargo para se candidatar à Presidência da República. Tivemos sorte. O sucessor, João Soares, deixou igualmente uma marca positiva.
Em 2004, Lisboa tinha outro grande presidente quando Pedro Santana Lopes renunciou ao cargo para substituir Durão Barroso como primeiro-ministro. Tivemos azar. O sucessor, Carmona Rodrigues – mal acolitado, é verdade – deixou, após três anos na função, a capital no caos que ainda hoje pagamos e que consegue pôr António Costa a suar. Basta recordar-se da herança que recebeu.
Como não conheço as capacidades do actual n.º 2 da câmara, tremo só de pensar que posso vir a ter de viver outra vez numa cidade em pantanas.
Observador, Sábado, 11MAI14
Jorge Sampaio: o primeiro-ministro que não tivemos
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