Alexandre Pais

A falta de vergonha é um fenómeno global

A

A reeleição de Mário Figueiredo como presidente da Liga, com o aval de 10 dos 57 clubes com direito a voto, bem como todas as peripécias que antecederam o ato, são o espelho do futebol português: jogadores e treinadores de topo, dirigentes de pequena estatura.
Nada que me admire tendo em conta o que pude comprovar na última década da minha carreira jornalística e que esqueci tão rapidamente que hoje me é quase indiferente tudo o que aconteça – até já me posso rir do que antes só me dava vontade de chorar.
No meio da confusão, vejo com tristeza a figura de Fernando Seara, uma personalidade que podia trazer à realidade do nosso futebol alguma decência e com ela uma gradual recuperação da credibilidade perdida. Não percebo como se deixou envolver por oportunistas e porque permitiu que se entregassem duas listas com o seu nome, uma que seria válida e que foi retirada, outra incompleta, e portanto nula, e que seguiu para bingo.
Mas o início do Mundial confirmou o que já devíamos ter por certeza: a falta de vergonha é um fenómeno global. Mesmo assim, torna-se difícil entender como se organiza a grande competição de futebol, que é talvez o maior espetáculo do Planeta e que suscita a atenção de um número “estratosférico” de pessoas, sem conseguir dar qualidade à arbitragem, um problema tão velho como a modalidade e que pode simplesmente alterar a verdade e estragar a festa. Apenas com três jogos disputados – escrevo antes do Chile-Austrália – e já se acumulavam os erros no Brasil: penálti mal apontado contra a Croácia, por suposto derrube de Fred, dois golos indevidamente anulados ao México, outra grande penalidade inventada, essa a favor da Espanha e por “arte” de Diego Costa, e vista grossa do árbitro à falta de Van Persie sobre Casillas, na pequena área, no lance que deu o terceiro golo dos holandeses.
Claro que no caso do penálti que beneficiou o Brasil – e desfez o novelo do 1-1 – a careca fica a descoberto quando Scolari vem dizer que viu a jogada dez vezes e que o árbitro ajuizou muito bem. Sábio, ele conta com o “vale tudo” na caminhada para a vitória.
A moral da história é fácil de tirar: no futebol, como na vida, onde há má gente acontecem péssimas coisas. Em Portugal e na Gronelândia.
Canto direto, Record, 14JUN14
 

Por Alexandre Pais
Alexandre Pais

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