Quando o Benfica está menos bem, salta a língua aos comentadores que detestam Jorge Jesus. É a oportunidade jamais desperdiçada para tentar denegrir um homem que não tem o nível intelectual das sumidades – mesmo das que dizem “hajam” estas e “hajam” aquelas – mas que percebe mais de futebol de olhos fechados do que elas todas juntas e com os delas abertos.
A crítica mais vezes dirigida ao treinador encarnado na maré vazia é a sua falta de aposta nos jovens, como se tudo o que luzisse na academia fosse ouro e um profissional, que está obrigado a apresentar resultados, pudesse andar a perder tempo com balões de ensaio. O que Jesus faz, ao contrário do que acham os que na verdade anseiam pelo seu insucesso, é atuar pela certa, é utilizar as suas energias a lapidar jogadores como Talisca, recuperar vontades como a de Eliseu, descobrir utilidades como a de André Almeida, inventar soluções como a de Jardel, potenciar talentos como o de Gonçalo Guedes, pôr o Benfica a faturar como aconteceu com as cedências de Rodrigo e André Gomes. A separar o trigo do joio, Jesus é único, é uma águia.
A última demonstração da sua capacidade para distinguir entre um jogador que pode render a curto prazo e outro que seja uma grande promessa e todos os anos precise de ser emprestado, deu-se com Jonas, engolido pela baleia do conformismo em Valência, mas que JJ sabia ter uma qualidade técnica que valia a pena recuperar. E lutou por isso: insistiu até que fosse possível contratá-lo.
Para quem, como eu e tantos outros, entende qualquer coisa mas não muito de futebol, e necessita, para ter a certeza, daquele segundo golo do Benfica, no sábado, na Covilhã, tudo é mais lento – é ver para crer, como S. Tomé. Para quem sabe, como o Jorge, basta apenas um clique. E já está.
Canto direto, Record, 20OUT14
Jorge Jesus é uma águia
J